São Paulo, quarta-feira, 2 de fevereiro de 1994
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Dinâmica econômica

ANTONIO DELFIM NETTO

Quando um dos formuladores do programa do PT afirma que "com o esgotamento do processo de industrialização por substituição de importações, nós temos que descobrir um novo princípio de dinâmica econômica (sic) que mantenha uma fronteira de acumulação aberta", assistimos a um exemplo típico do psitacismo que ecoava com sucesso retumbante nas velhas reuniões da UNE nos idos de 1950.
Não é preciso apelar para nenhuma "lei histórica" ou perder-se no rocambole dialético para entender um fato simples: o Brasil se perdeu, a distribuição de renda piorou e os pobres estão mais pobres porque não soube manter uma política econômica que ampliasse as exportações e reduzisse com cuidado a proteção tarifária (e não-tarifária!). Que desse (como sempre deu) apoio à agricultura com baixos juros reais, subsidiados pelo Orçamento –o que não é pecado– e com parte dos ganhos dos depósitos à vista dos bancos. Que desse apoio à indústria, proporcionando-lhe linhas de crédito a juros civilizados. Que produzisse o equilíbrio orçamentário pelo corte das despesas de custeio.
A tabela abaixo mostra a nossa miserável atuação no campo das exportações, a partir de 1984:
Em 93 o mundo exportou mais de US$ 3.900 bilhões, enquanto o Brasil chegou, melancolicamente, aos US$ 39 bilhões.
O Itamaraty e outros acólitos do presidente têm insistido em que há uma discriminação contra o Brasil, o que é apenas ligeiramente verdadeiro. A estagnação de nossas exportações é culpa da política econômica instalada a partir do estelionato eleitoral de 1986. Tivemos três congelamentos de câmbio. Destruímos o sistema de financiamento e transformamos as exportações num ato criminoso (pois não se diz que é a exportação que produz a fome?).
O quadro abaixo mostra nossa tragédia com clareza ofensiva:
Entre 1984 e 1993, o mundo aumentou suas exportações em 120%, enquanto o Brasil em apenas 45%! Em 1984, exportávamos 1,6% do total mundial. Em 1993, graças às estripulias heterodoxas a que o país foi submetido, exportamos 1,0%. Se apenas tivéssemos mantido nossa posição (o que não exigia grande esforço), estaríamos exportando em 1993 alguma coisa parecida com US$ 57 bilhões. E poderíamos estar importando mais do que 40 milhões (o dobro do que importamos), aumentando a eficiência produtiva, crescendo e dando emprego a pelo menos mais 500 mil brasileiros.
Essas observações parecem importantes no momento em que com a URV o governo parece sinalizar outra mágica besta com o câmbio. E mais ainda porque mostram onde procurar o dinamismo perdido...

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