São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Presidente reage a crítica e irrita diplomatas dos EUA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DE WASHINGTON

O governo brasileiro repudiou ontem o relatório anual sobre direitos humanos divulgado pelo governo dos Estados Unidos no último dia 1º e que traz um capítulo sobre violação desses direitos no Brasil. Segundo nota distribuída ontem pelo Palácio do Planalto, o protesto será feito formalmente pela embaixada brasileira. Essa reação chegou ao conhecimento de diplomatas norte-americanas, que reagiram com surpresa e alguma irritação.
Um dos comentários ouvidos pela Folha foi que o Congresso brasileiro tem todo o direito de pedir ao Itamaraty que avalie a situação dos direitos humanos de outros países, como fez o Congresso norte-americano. Outro comentário é que o governo brasileiro, se quiser, pode ter acesso a incontáveis volumes de documentos sobre direitos humanos nos EUA.
O documento do governo brasileiro diz que "preocupa ao governo do Brasil o fato de um governo estrangeiro arrogar-se o direito de opinar unilateralmente sobre a situação dos direitos humanos em outros países". Além de afirmar que há organismos internacionais que cumprem esta função, a nota diz que o governo norte-americano não divulga relatórios sobre violação de direitos humanos que ocorrem nos EUA.
O relatório do governo norte-americano cita os massacres do Carandiru, Candelária e ianomâmi e a prostituição de menores no Brasil. O governo brasileiro afirma que o relatório norte-americano contém "graves impropriedades".
No Departamento de Estado, não se esperava por uma reação tão abrupta do governo brasileiro. Entre os países da América Latina, era do México que se temia refutação mais incisiva, por ele ter sido classificado entre os quatro no subcontinente com as mais graves violações de direitos humanos.
A nota de ontem vai aumentar o preconceito contra o governo Itamar e pode dificultar as relações entre os dois países nos próximos meses, quando assuntos delicados serão resolvidos, como possíveis sanções comerciais por causa da questão da propriedade intelectual.

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