São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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País confunde investidor estrangeiro

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil está confundindo a cabeça dos investidores estrangeiros. Análises recentes feitas por quatro bancos de investimento norte-americanos recomendam atitudes absolutamente divergentes, desde "ponha dinheiro no Brasil" até "fique longe das Bolsas brasileiras".
O Brasil exerce um fascínio contraditório. De um lado, os investidores olham para as imensas potencialidades de uma economia que produz US$ 450 bilhões por ano. De outro, observam a inflação recorde e a instabilidade política. Qual visão vai prevalecer?
Para os analistas da Merril Lynch, o Brasil vai decolar breve, de modo que a recomendação é direta: aumentar os investimentos desde já. Outro banco de prestígio equivalente, Bear Sterns, acha, ao contrário, que o "risco Brasil deve ser evitado em função da situação política".
Já o CS First Boston subiu no muro. Escreveu para seus clientes: "O risco político e a volatilidade de curto prazo continuam elevados e recomendam atitude prudente". Finalmente, o Morgan Stanley acha que não só o Brasil mas todos os chamados "mercados emergentes" constituem um modismo que deve ser encarado com máximo cuidado.
Na mesma direção, a revista "Fortune" de dezembro escreveu, a respeito do mercado de ações em geral, aí incluída a incrível Bolsa brasileira: "Com as baixas taxas de juros (internacionais), as pessoas estão comprando ações como nunca. Estarão preparadas para os prejuízos que virão pela frente?"
O presidente da Brasilpar, Roberto Teixeira da Costa, que lida permanentemente com investidores estrangeiros, confirma que eles se animam com o tamanho da economia brasileira e com as possibilidades de rápido crescimento. "Quando conto que só 10% das vendas no Brasil são financiadas, o pessoal fica maluco. Pois isso significa que os negócios podem se multiplicar dez vezes quando acabar a inflação", relata Teixeira da Costa.
Além disso, países como México e Argentina já deram o que tinham de dar. Segundo Teixeira da Costa, os investidores se questionam: que negócio novo pode aparecer na Argentina? A privatização da avenida de Mayo, em Buenos Aires?
E tirante isso na América Latina, o que resta? O Chile é muito pequeno, na Venezuela, o novo presidente Rafael Caldera é considerado "suspeito" pelo capital internacional.
O Brasil ainda oferece muito negócio novo, mas em compensação tem inflação e um nome de esquerda, Luís Inácio Lula da Silva, liderando a corrida presidencial. Permanecendo essa situação, os investidores estrangeiros continuarão no dilema que se resume assim: se o Brasil decolar, ganha quem tiver investido antes; mas o investimento agora corre o risco de virar pó.
Teixeira da Costa acredita que há condições de se alterar esse quadro. Ele prevê uma enxurrada de dólares no Brasil se ocorrerem os seguintes fatos: o Congresso aprovar e o governo implementar o ajuste fiscal e o Plano FHC; o Congresso votar "alguma reforma constitucional"; e as pesquisas em maio ou junho mostrarem um candidato viável de centro para enfrentar Lula.
Enquanto isso, o risco Brasil permanece confundindo.

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