São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Sacerdotisa do 'chic'

COSTANZA PASCOLATO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Lenda
Lendária, Diana Vreeland, viveu em época e lugares certos. Nascida em Paris (ninguém sabe a data exata: "datas me aborrecem") no início do séculou em Nova York dia 22 de agosto de 1989. Casou-se com o banqueiro T. Reed Vreeland em 1924. Sua predileção pelo luxo aristocrático (lembrança do elegante estilo de vida anterior à Segunda Guerra Mundial) não a impediu de intuir o extraordinário ritmo de transformações da vida do vigésimo século. Seu olho para o novo e o criativo influenciou gerações. Por mais de 40 anos, Vreeland interpretou três papéis principais: o de protagonista –como colunista (1937) e depois editora de moda (de 1939 a 1963) da revista "Harper's Bazaar"–; estrela –na revista "Vogue" (de 1963 a 1971), e superestrela –como consultora especial do Instituto do Vestuário do Metropolitan Museum de Nova York, promovendo históricas exposições de moda (de 1972 a 1986).
Proezas
Feia, pelos padrões convencionais, desde jovem inventou um visual inédito. Fez de seu rosto forte e nariz adunco virtudes. Tornou marca registrada sua silhueta esguia, seu cabelo profundamente negro (até a morte) e as grandes orelhas tão vermelhas de blush quanto suas faces. Amigos a definiram como um grande coração envolvido por uma massa de maneirismos cheios de imaginação. A mesma imaginação que usou em sua coluna "Por que você não..." para a "Harper's Bazaar", em 1937, em que, durante o tenso momento de depressão que antecedeu a Segunda Guerra, dava conselhos como: "por que você não usa seu velho mantô de arminho como roupão?"; ou "por que você não enxagua o cabelo loiro de seus filhos com champanhe amanhecido?". Comentários que fizeram escândalo, mas que a tornaram editora de moda.
Durante a maior parte dos anos 60, quando os costumes viveram grande revolução, DV presidiu a revista "Vogue". O mundo da moda levou tudo o que ela disse muito a sério. Visualmente, foi experimental. Mandou fotografar com lente grande-angular, distorceu modelos, agigantou cabeças, minimizou pés. Criou maquiagens quase sintéticas, futuristas. Richard Avedon, sua cria, emblemático fotógrafo, diz: "ela foi e continua sendo o único gênio em edição de moda".
"Allure"
Diana Vreeland carregou seu ambiente pessoal para onde vivesse ou trabalhasse. Elegeu o vermelho como cor favorita. Seu apartamento na Park Avenue, Nova York, decorado por Billy Baldwyn, era "um jardim no inferno". Totalmente rubro e cuidadosamente abarrotado. Assim como todos seus escritórios.
Seu notável talento como frasista foi fundamental para sua imagem e carreira (leia nesta página). São de sua autoria expressões que entraram para o vocabulário pop: "Não tenha medo de ser vulgar, só tema ser aborrecido, classe média ou sem graça". Muitas vezes chocantes, às vezes pouco comerciais, suas sugestões eram sempre cheias de imaginação. Em 70 disse ao "Sunday Times", jornal inglês: "acho que o que me interessa vai interessar outras mulheres, e o que me diverte as diverte". Sua peculiar maneira de editar foi considerada elitista, dramática e pessoal demais. Inadequada aos novos tempos. Foi despedida e levou consigo sua mágica.

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