São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Viareggio critica fatos atuais à beira do mar

Carros alegóricos se destacam na cidade italiana

BRUNO GIOVANNETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Surpresa, ironia e muita agitação. Milhares de pessoas assistem no "viale" Lungo Mare, na avenida beira-mar, à passagem dos mastodontes de papel machê, os carros alegóricos –maiores que edifícios de três andares– que, na melhor tradição viareggina, apresentam e fustigam os temas da atualidade, da política aos costumes sociais.
Surpresa não só pela beleza das criações, mas também pela força impiedosa e livre de censuras que distingue a mordaz capacidade crítica dos habitantes dessa característica cidade toscana às margens do Tirreno. Fatos de crônica local e internacional, eventos históricos, ideologias políticas e religiosas desfilam na avenida, evidenciando as debilidades, inquietudes e mazelas do convívio humano.
Esses gigantes de papel apresentam dezenas de enormes figuras que se movem, se alongam, se projetam sobre o público, escondendo em seu bojo complexas engrenagens de polias, de cordas e alavancas. É preciso muita cor e habilidade artesanal. Raízes anárquicas, anticlericais, antigovernamentais, antiqualquer coisa permeiam o Carnaval de hoje, que nasceu na segunda metade do século passado, quando Viareggio, cidade balneária chique, exibia em seus bares e cassinos a flor da elite italiana.
Além do canal Burlamacca, que divide a cidade turística da cidade-porto, os viaregginos, rústicos homens do mar, passavam o inverno preparando a resposta popular aos fatos mundanos que movimentavam os salões elegantes. Por lá passavam estadistas italianos e europeus, magnatas, expoentes da nobreza e da burguesia em ascensão. Os viaregginos, marujos por tradição, uniam a essas imagens as imagens colhidas nas longas viagens pelo mundo afora. O Carnaval fundia nas criações mais fantasiosas o humor daqueles que ficavam, como numa janela, a observar as aberrações, belezas e contradições do homem.
Viareggio apresenta um Carnaval entre os mais famosos da Europa. São quatro domingos de desfile –aqueles que precedem a Quaresma–, mais o desfile de apoteose, na terça-feira. Fogos de artifício iluminam o mar e carros alegóricos dominam a avenida, símbolo e registro da capacidade de crítica e autocrítica que assegura a evolução da civilização.

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