São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994
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O Comando das drogas

CÂNDIDO FURTADO MAIA NETO

O comércio de drogas é considerado delito inafiançável. A Constituição Federal e a lei nº 6.368/76 prevêem pena de reclusão de até 15 anos, sem direito a benefícios ou interposição de recursos em liberdade.
No Rio de Janeiro, este tipo de crime tem dificultado a coibição da delinquência por parte do poder público. O direito de inviolabilidade de domicílio, garantido na Carta Magna, proíbe a polícia de "meter o pé nos barracos" e propicia o enraizamento das gangues na cidade maravilhosa, onde os traficantes estocam grandes quantidades de drogas nos casebres, muitos com pisos falsos.
Cerca de 6.500 homens fortemente armados trabalham para o Comando Vermelho, e 300 mil pessoas vivem de rendimentos indiretos, entre elas os "garotos do dedo" –adolescentes armados–, e menores que passam o dia empinando pipas, em um código para determinar a presença da polícia.
Armas de grosso calibre, do tipo pistola 7.65 mm, de uso exclusivo das Forças Armadas, metralhadoras do tipo Beretta, Uzi ou Ingran de 9 mm, fuzis automáticos AR-15, granadas, rifles com miras telescópicas e laser, balas "full metal jacket" super perfurante (de aço especial), bem como armamento bélico pesado anti-tanque e anti-aéreo, são de uso dos traficantes.
O Comando Vermelho nasceu em 1979, no estabelecimento penal Cândido Mendes, conhecido como "caldeirão do diabo", situado na Ilha Grande (RJ). Seu principal articulador foi William da Silva Lima, vulgo "Professor", que obteve experiências com alguns presos políticos da ditadura militar.
Ironicamente, "Paz, Justiça e Liberdade" é o slogan do Comando. É um grupo que pode ser definido como paramilitar-revolucionário. Assaltam bancos e carros-fortes com o objetivo de arrecadar recursos para a compra de drogas no atacado, e sequestram grandes empresários –segundo eles, os verdadeiros criminosos.
No submundo da criminalidade, outras quadrilhas concorrem com o Comando. Do interior dos presídios, as organizações controlam 70% dos pontos do comércio de drogas.
Por outro lado, na Amazônia, vários laboratórios de refino da folha de coca estão em plena produção. As conexões internacionais que ligam o Brasil à rota do narcotráfico são facilitadas pelo desguarnecimento das nossas fronteiras. A notória impunidade da justiça brasileira faz com que este país seja o da preferência dos traficantes.

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