São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994 |
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Exposições e documentário lembram Brecheret
DANIEL PIZA
A exposição do Centro Cultural se abre no dia do centenário e traz dez esculturas, três esboços para monumentos, fotos e painéis com artigos de jornal sobre Brecheret. Cada uma das esculturas é feita de um tipo dos materiais com que ele trabalhou: mármore, pedra, terracota, bronze etc. Entre elas, está a "Eva" que fica instalada no próprio Centro Cultural. A Pinacoteca inaugura a sua no dia 26. São desenhos, fotos e cerca de 20 esculturas. Além disso, no dia da abertura a Casa da Moeda lança uma moeda comemorativa. O diretor do museu, Emanoel Araújo, considera o evento "mais um tributo que uma exposição". Todas as obras pertencem ao acervo da Pinacoteca. O documentário da TV Cultura deverá ser exibido só em abril. Foram filmadas cerca de 150 peças de Brecheret. Através delas e de depoimentos, a intenção é mostrar vida e obra do artista. O roteiro e a direção estão a cargo de Zita Bressane. A filha do artista, Sandra Brecheret, não consegue disfarçar que acha fraca a comemoração do centenário, mas se diz satisfeita. Seu maior empenho está sendo com o documentário. "A TV Cultura fez ótimos documentários de Nelson Rodrigues, Mario de Andrade e outros. Acredito que o de meu pai também vá sair bom", diz. Perfil Há controvérsia sobre o local de nascimento de Brecheret, mas a filha do escultor tem a certidão de nascimento onde consta São Paulo. Sua carreira, no entanto, começou a decolar em Roma, onde, aos 19 anos, Brecheret abre seu ateliê e, aos 20, participa de sua primeira exposição. Na segunda exposição, a Internacional de Belas Artes de Roma, ganha o maior prêmio. Em 1914, ano em que começa a Segunda Guerra, Brecheret ouve o silvo de uma bomba: a notícia da morte de Auguste Rodin, o escultor de sua predileção. Vai até Paris para conferir; junto a uma multidão, acompanha o féretro do mestre francês. Esse evento é significativo. Rodin, como se sabe, foi quem abriu as portas para a revolução modernista na escultura. Observando sua obra, Brecheret aprendeu o segredo da simplicidade sugestiva, do figurativismo não-aristotélico, em que a escultura não se pretende mimese, não pretende espelhar a realidade. Toda a economia estilística de Brecheret tem uma dívida insolúvel com Rodin. E não só isso: como Rodin, Brecheret foi um grande escultor de mulheres; seu fascínio era pelo instável equilíbrio das formas e volumes do corpo feminino. A primeira fase de Brecheret, que se poderia chamar de pré-modernista, evidencia a influência extrema de Rodin, e é ainda um produto disso o que ele expõe na Semana de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo: 22 esculturas que apaixonaram os modernistas. Mas, nos anos seguintes, Brecheret vai a Paris e sua arte sofre nova guinada; aí sim, descobre o modernismo. Influenciado pelo futurismo e por Henry Moore, começa a fabricar obras de grande agilidade e força. Desse período é "Sepultamento", a esculturas de mais de dois metros de altura que adorna o túmulo da família Guedes Penteado no cemitério da Consolação. É uma de suas obras-primas. Depois, no final dos anos 20 e nos anos 30, a produção de Brecheret parece algo "perdida", com lances de ousadia incrível e outros de retrocesso idem. No final dos 40, no entanto, influenciado sobretudo pela obra de Brancusi, Brecheret muda novamente. Passa a usar o recurso da "hidden figure" (figura oculta) e, num achado genial, incorpora a isso o artesanato indígena. Faz uma série de "Maternidades" (outro de seus temas) em que é quase necessário olhar o título para lhes entender o sentido. É o seu testamento. Texto Anterior: Graça de 'Capitalismo...' vem da desgraça Próximo Texto: Artista não merece o descaso Índice |
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