São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994
Próximo Texto | Índice

Crianças bósnias cavam trincheiras

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As três partes envolvidas na guerra civil da Bósnia costumam tomar crianças como reféns e usá-las para cavar trincheiras na linha de frente, denunciou ontem o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O representante da entidade na ex-Iugoslávia, Thomas McDermott, afirmou que "há relativamente poucas crianças envolvidas na guerra, mas crianças têm sido tomadas como reféns e usadas para cavar trincheiras".
Na terça-feira, o psicólogo norueguês René Stuvland, da ONU, revelou que muitas das crianças de Sarajevo, a capital bósnia, já não buscam proteção quando alvejadas por franco-atiradores ou artilharia. Segundo ele a guerra tornou essas crianças apáticas, sem perspectiva de futuro, o que teria gerado em suas mentes o que ele chama de "tendência passiva ao suicídio".
Sarajevo já registrou em 22 meses de guerra 10.000 mortos e 50.000 feridos, dos quais 1.560 mortos e 14.000 feridos seriam crianças. O Unicef estima o número de crianças vitimadas pela guerra em toda a Bósnia em 15 mil mortas e 35 mil feridas.
O chanceler da Itália, Beniamino Andreatta, disse ontem que o governo do país vai apoiar a iniciativa de um grupo católico para que o Prêmio Nobel da Paz de 1994 seja dado às crianças da Bósnia.
Também em Roma, o Programa Mundial de Alimentação da ONU (PMA) afirmou que apenas 40% a 50% dos alimentos enviados à Bósnia como ajuda humanitária estão chegando às populações civis que deveriam recebê-los. A subnutrição é um problema cada vez mais grave em todo o país.
Nas proximidades de Sarajevo, os sérvios deram passagem ontem a um comboio humanitário, somente depois que o novo comandante das forças de paz da ONU na Bósnia, o general britânico Michael Rose, ameaçou enviar uma coluna de tanques para abrir caminho à força, se fosse necessário.
Os bombardeios à capital sérvia se intensificaram depois de encerrada a visita das primeiras-ministras do Paquistão, Benazir Bhutto, e da Turquia, Tansu Çiller, na quarta-feira. Prosseguiu o bombardeio sérvio ao aeroporto da cidade muçulmana de Tuzla, que a ONU pretendia reabrir para estabelecer uma ponte-aérea humanitária.
Itália e Dinamarca anunciaram que vão propor sanções econômicas contra a Croácia numa reunião de ministros da União Européia marcada para segunda-feira. A Croácia é acusada pelo governo bósnio e pela ONU de ter infiltrado milhares de soldados na Bósnia para combater os muçulmanos.

Próximo Texto: Termina o embargo dos EUA contra o Vietnã
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.