São Paulo, sábado, 5 de fevereiro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
"Burroughs explorou terrenos proibidos", diz Allen Ginsberg
EDUARDO SIMANTOB
Jack Kerouac e Allen Ginsberg nem bem chegavam à vida adulta quando conheceram "mestre Bill". Amigos e companheiros de viagem desde então, suas obras se entrecruzam em diversos momentos e nas mais variadas situações. Kerouac morreu em 1969, deslocado em meio ao movimento que involuntariamente inspirou, afogando suas mágoas no vinho. Ginsberg continuou ativo e cada vez mais influente. Há décadas atuando em movimentos por direitos humanos, liberação gay e ecologia, tem por profissão lecionar e escrever poesia. Aos 67 anos, de volta a Nova York após quatro meses palestrando na Europa, Ginsberg falou por telefone à Folha sobre a importância da obra de Burroughs. A seguir, trechos de suas declarações. * "Burroughs teve um grande efeito na cultura 'mainstream' norte-americana, mesmo sem saber. Há vários jovens escritores bastante influenciados em termos de construção de uma obra literária. Burroughs mostrou que um romance podia ser uma série de flashes, mosaicos e rotinas, ao invés de ser simplesmente uma narrativa linear. Outro ponto importante é a exploração de áreas então proibidas, como o homossexualismo, fantasia mágica, drogas, coisas muito na moda hoje em dia." "Antes da revolução sexual dos anos 60 e 70, havia uma grande desinformação sobre esses temas, com os quais Burroughs lidava tão naturalmente como se respira. Mas acredito que o mais importante em toda sua obra é o combate à dignificação da burocracia, da censura e do estado policial, detectando os mecanismos de controle mental subliminares e de lavagem cerebral em escala global." "Burroughs costuma dizer que 'o governo é a linguagem', ou seja, ele é conduzido por palavras, leis e decretos, jornais e declarações; quem controla a linguagem controla as mentes. Controle de pensamento é na verdade palavras e imagens, e Burroughs é um grande 'picturista'. Enquanto os intelectuais dos anos 60 e 70 procuravam extremos marxistas e maoístas, nós estávamos interessados em consciências alteradas, tentando encontrar soluções ecológicas ao invés de ideológicas." Com tudo isso, no seu aniversário haverá apenas uma pequena festa em sua casa e eu não creio que o presidente Clinton o chamará na Casa Branca." --(ES) Texto Anterior: 'O escritor é por definição um outsider' Próximo Texto: Atrás da Verde e Rosa só vai paulista?! Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |