São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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'Teens' da Bolsa rejeitam fama de yuppies

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à euforia dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo, uma nova geração de operadores, com idades entre 17 e 20 anos, enfrenta hoje dois desafios: enriquecer e ao mesmo tempo fugir do estigma de yuppie, que marcou a geração anterior. Investimento da vez, apenas nos primeiros 35 dias de 1994 a Bolsa subiu 118%, contra, por exemplo, uma alta de 51,6% do dólar.
"Os meus amigos até me acham yuppie, mas é porque não entendem o que faço. Fora da Bolsa, uso tênis, jeans e camiseta de banda de rock", diz Rodrigo Esteves, 20, operador de pregão há dois anos. Sobre o trabalho, diz: "Dá para tirar uma grana, mas é muita pressão. Sinto quando o meu patrão está perdendo e fico nervoso", diz. Para aliviar a tensão, Rodrigo frequenta o bar Arsênico, na Vila Madalena, e gosta de ouvir discos do The Doors ou do Velvet Undergroud, grupos que acabaram na virada dos anos 60 para os 70.
Como qualquer um dos cerca de 500 operadores de pregão da Bolsa (há um ano eles eram apenas 300), Rodrigo não fala quanto ganha. Mas é possível ter uma idéia. Os que recebem apenas salário (sem comissões) estão numa faixa de US$ 500 (CR$ 240 mil) a US$ 2.000 (CR$ 960 mil) mensais. "É um ótimo salário para essa garotada", diz José Luiz do Amaral Sampaio, 44, do Conselho de Operadores e Auxiliares da Bolsa de Valores de São Paulo, uma associação de classe.
Como a maioria dos jovens operadores da Bolsa, Paulo Cesar Fernandes de Andrade, 20, também enfrenta a incompreensão dos amigos. "O pessoal me chama de mauricinho, mas não tem nada a ver. Fora daqui uso bermudas jeans", diz. "Os amigos acham que eu ganho muito dinheiro e sempre pedem um biquinho", acrescenta.
Paulo Cesar é colega de corretora de um dos caçulas da Bolsa, o auxiliar de pregão Eduardo Palmer, 17. "A maioria dos meus amigos, a essa hora, está tomando sol na piscina. Eles me chamam de yuppie e de playbozinho. Mas eu não sou. Gosto de me vestir bem, mas não sou encanado", diz. Morador de Alphaville, Eduardo não é de sair muito e, como Rodrigo, adora grupos de rock de uma época em que nem era nescido, como os Doors e Pink Floyd. "Também gosto do Nirvana, apesar de falarem que é um lixo."
"Não largo isso aqui por nada. É um vício. Aqui não tem rotina e é o único lugar onde você tem condições de fazer uma alavancagem financeira rápida", diz Giancarlo Bergamo de Paula, 19, há quatro meses trabalhando como operador. Diferentemente dos garotos da sua idade, Giancarlo não gosta de rock: "De aglomeração, basta a Bolsa. Gosto de música boa, de Frank Sinatra a pagode".
Giancarlo, aliás, afirma ter poucos amigos de sua idade. Prefere sair com pessoal mais velho e frequenta lugares yuppies, como o Café Cancun e o Banana Banana. "Gosto de viver e me vestir bem, mas não tenho preferência por marca de roupa nem me considero yuppie", diz.
Para ser operador da Bolsa é preciso ter 2º grau completo e ser maior de 21 anos. Maiores de 18 podem ser autorizados a operar se forem emancipados.

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