São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com FHC, economistas descartam híper

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O ministro Fernando Henrique Cardoso vai ter que aprender a cozinhar. O clima é parecido. É de arroz com feijão mesmo." A afirmação é do ex-ministro Mailson da Nóbrega, ao ser indagado sobre as diferenças e semelhanças entre o final dos governos Sarney e Itamar.
Na quinta-feira, após o adiamento da votação do Fundo Social de Emergência (FSE), FHC cobrou responsabilidade do Congresso e disse não ter vocação para "cozinheiro", afirmando que não adotará a política "feijão com arroz" como no último ano do governo Sarney. Mailson, na época ministro da Fazenda, conduziu a política econômica administrando de forma convencional o dia-a-dia.
Para Mailson, FHC tem condições de operar uma transição sem o descontrole inflacionário do final de 89. "Existem duas diferenças fundamentais: reservas internacionais de US$ 33 bilhões e uma visão geral de que é preciso rever a Constituição de 88." Mailson não acredita em queda da inflação de forma sustentada. Dizendo que a equipe econômica é competente e que o ministro é um líder.
Para ele, o governo pode cantar vitória porque conseguiu aprovar, de forma desconjuntada, "uma das piores propostas tributárias já produzidas". Mailson acredita que o Congresso vai aprovar a criação do FSE.
É esta também a avaliação de Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central (na gestão Zélia Cardoso de Mello). Embora considere que o ministro "optou pelo
caminho de maior resistência", que envolve, em ano eleitoral, mexer em recursos de Estados e municípios. "Vai sair algum acordo", afirma.
Eris acredita que se está assistindo "a impossibilidade de se fazer um plano de estabilização em final de governo. Nunca tem governo em véspera de eleição. Também não tem Congresso e vai piorar. Mas, agora, isto é coisa do passado. O ministro já anunciou seu plano. Tem que ir em frente, pelo amor de Deus".
Eris desenhou o seguinte cenário para setembro: preços livres, inflação declinante, nível de atividade crescendo e saldo comercial em queda. Mas, disse que não é otimista. "Em 94, qualquer plano faz baixar a inflação. Não existe mistério na URV (Unidade Real de Valor), é só olhar para a Argentina," diz. Por enquanto, Eris qualifica a atuação do governo na revisão de omissa.
O economista Eduardo Giannetti da Fonseca não aposta em uma reprise do final do governo Sarney.
Para ele, a inflação vai cair abruptamente e, no segundo semestre, voltar a se acelerar, "mas nada parecido com o descontrole de 80% ao mês". As razões: arrecadação
fiscal satisfatória, reservas internacionais em bom nível e um plano em andamento, "o que não existia em 89".
Pedro Bodin, ex-diretor do BC na época do então ministro Marcílio Marques Moreira, é mais cauteloso. Para ele, o risco de descontrole está afastado se "não houver substituição no Ministério da Fazenda". Mas acredita na aprovação do FSE, porque o Congresso não vai querer um país "ingovernável".

LEIA MAIS
sobre o Plano FHC no caderno Finanças

Texto Anterior: Saiba por que o PIB não repete alta de 93
Próximo Texto: Para Febraban, 'FHC é fundamental'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.