São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Saiba por que o PIB não repete alta de 93

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A expectativa dominante para 1994 indica que a economia brasileira continua crescendo, porém menos que os 4,5% de 1993. As previsões variam de 2% a 3% de crescimento anual do Produto Interno Bruto, PIB. Essas previsões consideram que o Plano de Estabilização, com a introdução da Unidade Real de Valor, URV, pode ser iniciado. mas não concluído neste ano. Se ocorrer a hipótese improvável de o Plano ser inteiramente aplicado neste ano, o crescimento será menor ou nulo.
Essas análises baseiam-se numa observação prática e em outra teórica. A primeira: em 94 não se repete nenhum dos fatores que determinaram o forte crescimento de 93. A ponto teórico é simples: não é possível derrubar a inflação num ambiente de crescimento econômico. O crescimento ocorre depois do período de estabilização.
No ano passado, estímulos de crescimento econômico apareceram tanto no setor público quanto no privado. No setor público, o dado mais importante foi o forte crescimento dos gastos do governo federal. Até novembro, as despesas da União registravam crescimento de 38% em relação ao mesmo período de 1992.
Subiram todos os ítens, especialmente aqueles que influem diretamente na atividade econômica. Os salários do funcionalismo federal cresceram 28%. As despesas com custeio e investimento -gastos que vão desde a compra de clieEs até a aquisição de computadores- subiram nada menos que 51%.
No setor privado, produção e vendas foram beneficiadas por ganhos salariais, especialmente para os trabalhadores na indústria, pela estabilidade no nível de emprego, pela redução das taxas de juros reais e pelos arranjos setoriais que permitiram grande expansão da indústria automobilística.
A produção de veículos, por exemplo, cresceu 30% em 1993, sempre em relação a 1992. As vendas internas subiram espantosos 43%, um recorde absoluto. Dado o poder multiplicador da indústria automobilística, calcula-se que seu desempenho foi responsável por um terço dos 4,5% de crescimento do PIB.
Mesmo que seja mantido o acordo setorial da indústria automobilística, não há condições de se repetir o crescimento do ano passado. Na verdade, o setor trabalha com previsão de crescimento de 5% sobre 1993.
É preciso não esquecer que 1992, fim do governo Collor, foi um ano no fundo do poço. Os gastos do governo federal sofreram um arrocho inédito. Os juros alcançaram alturas récordes. Á as empresas privadas, apertadas duplamente pela recessão e pela abertura à competição externa, passaram 1992 fazendo ajustes, reduzindo atividade e emprego, e realizando prejuízos. Ásse quadro derruba salários e consumo. Mesmo quem continua empregado gasta menos, para fazer uma reserva por medo de que o pior também lhe aconteça.
O ano passado representou assim um alívio em relação a um 1992 muito ruim. O desemprego parou de aumentar, houve em seguida algum aumento do número de empregados, mas a indústria paulista terminou 1993 praticamente com o mesmo número de trabalhadores do início do ano. Para se comparar: em 1991, a mesma indústria paulista cortou 9,6% de sua força de trabalho. Ám 1992, mais 10,58% de corte. Em 93, tinha que parar.
Em resumo, a atividade de 1994 encontra-se num nível parecido com a do ano passado e deve ficar assim: maior que 1991 e 92, porém menor do que 1989, por exemplo. O governo federal promete gastos neste ano na melhor das hipóteses iguais aos de 1993. A subida da inflação para os 40% mensais corrói salários ao engolir mais rapidamente os reajustes. E os juros, que já subiram no final de 1993, devem permanecer altos para apoiar a estabilização.

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