São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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China deixa ideologia e planeja privatização

ANDREW BROWNE
DA "REUTER", EM XANGAI

Para enfrentar um crescente déficit orçamentário, o governo da China deixou de lado seus escrúpulos socialistas e passou a estudar como vender a imensa participação acionária do Estado nas empresas sem provocar o colapso das Bolsas de Valores.
Apenas cerca de 20% das ações das aproximadamente 250 companhias listadas nas duas Bolsas da China estão nas mãos de investidores privados e são negociadas. Cerca de 30% estão em poder de instituições e exatamente a metade do capital acionário é controlado pelo Estado –uma fórmula que permitiu aos ideólogos linha-dura a prática da idéia de propriedade socializada aliada ao uso do mecanismo de mercado para aumentar a eficiência da indústria.
O dinheiro agora fala mais alto do que a política e Pequim estuda como fazer o que será um dos mais ambiciosos programas de privatização do mundo.
Economistas chineses garantem que o debate sobre como apurar lucros potencialmente gigantescos com a venda das ações do Estado se concentra puramente em seu caráter prático.
"A ideologia não é mais um impedimento. O debate é muito pragmático: é sobre 'cash"', diz Chen Qiwei, professor de Finanças Internacionais na Universidade Huandong de Xangai.
O aumento do déficit orçamentário, em ampla medida resultado da contribuição do governo dada às estatais, está alimentando a inflação e acelerou o debate sobre a privatização. Pequim precisa de dinheiro desesperadamente.
O problema é que a legião de pequenos aplicadores não gosta da idéia. Eles temem que uma avalanche de ações derrube o mercado. Nas últimas semanas, os rumores sobre o que Pequim vai fazer com o plano de privatização abalaram a confiança do mercado.
As grandes corretoras aconselham um enfoque passo a passo.
"Não se pode lançar todas as ações numa única manhã. Seria ruim para todos os acionistas", diz Tang Renrong, gerente da Shangai Hai Tong Securities. "Talvez se devesse lançar 3% ou 10%. Isto limitaria os danos ao índice da Bolsa. É preciso considerar a capacidade de os investidores absorverem o lançamento de ações", aconselha.
Os economistas dizem que listar mais companhias em Bolsa é essencial para o amadurecimento do mercado acionário chinês. No momento, especuladores tiram vantagem do pequeno movimento para manipular preços e índices.
O lançamento de ações em Bolsa deve também tornar mais transparente a administração das empresas. Os investidores privados têm agora apenas indícios sobre como as companhias listadas no mercado são geridas. Eles compram e vendem baseados em rumores e especulações. Pouca atenção é dada ao balanço das corporações.

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