São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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O programa e os programas do PT

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Dias atrás, Lula admitiu que em 1989, quando chegou ao segundo turno, o PT não tinha programa algum. Não admira que, no último e catimbado debate com Collor, tenha se mostrado inseguro. O golpe baixo que sofreu na undécima hora –o caso de sua filha– não alterou o resultado. Se alguns deixaram de votar nele, outros votaram nele por repugnância ao gesto do adversário. Foi o meu caso.
Em 1989, o PT não tinha programa –segundo Lula– e agora, com o pau descendo em cima daquilo que a Folha divulgou esta semana, o mesmo Lula manda dizer lá das águas onde se encontra que o partido tem pelo menos "uns 30" programas. O que, feitas as contas, equivale a nenhum.
E é nisso que reside o discutível charme do PT, excetuada a figura de Lula, que tem charme próprio e legítimo, bem maior do que o do partido. Não tendo programa, qualquer baboseira ideológica, por mais antiga e contestada pela história, ocupa espaço tático para justificar o "aparelho". Pois o PT, com 30 programas ou sem nenhum, é apenas um aparelho, eficiente, talvez lubrificado por dinheiro suspeito, talvez não. Como simples aparelho, o PT só tem a "praxis" competentemente administrada de um partido político, uma vez que o "logos" é primário, um somatório adolescente de reivindicações, as mesmas que serviram –volto a repetir– a todos os partidos totalitários, o Partido Nazista inclusive. Evidente que os nazistas tinham o Tratado de Versalhes para combater e a pureza racial para implantar. O PT não tem –pelos menos até agora– nada disso, pois nem programa tem. Pode-se argumentar que a pureza racial dos nazistas foi substituída pela pureza ideológica em nome da qual todos os crimes serão justificados.
Uma observação: os crimes em questão não incluem o caso do sindicalista assassinado. Como disse em crônica anterior, o caso do sindicalista é apenas um sintoma da luta pelo poder e pelo cofre sindical –leiam Joachim Fast e compreendam por que esse tipo de "sintoma" lembra os SS e SA.

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