São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Reprise bate novelas noturnas da Globo em qualidade e apelo

ISMAEL FERNANDES
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

A Rede Globo continua liderando a audiência nacional apoiada em suas novelas. É esta dramaturgia que promove toda a programação da rede, num ritual de 25 anos. No entanto, a média do Ibope das novelas globais vem declinando sem que ninguém saiba exatamente por quê.
No momento, nenhuma das três novelas no ar consegue mobilizar o público. Se mantêm uma audiência considerada satisfatória, não despertam o interesse de outros tempos. Pela primeira vez neste quarto de século no Brasil, a realidade se torna mais empolgante que a ficção. Hoje os telespectadores comentam no dia seguinte as notícias dos telejornais e não a trajetória dos personagens das novelas.
A explicação para o fato não se resume apenas ao interesse de nosso momento político, conturbado e cheio de revelações surpreendentes. É mesmo uma fase de pouca criação na telenovela. O domínio é quase exclusivo da produção; há uma exaustão quanto ao conteúdo das histórias.
Sintomaticamente, a melhor novela no ar hoje é a reprise de "Direito de Amar" (Globo, 13h25), sucesso há sete anos. A novela mostra, ainda hoje, um extraordinário resultado final, alicerçado num enredo interessante, costurado por um texto sedutor. O texto é de Walter Negrão, um autor que é mantido distante da euforia da mídia, nunca busca o tentacular e sempre acerta.
"Direito de Amar" estreou em 16 de fevereiro de 1987 e ficou no ar até 5 de setembro do mesmo ano. O ponto de partida era uma antiga história de Janete Clair, "Noiva das Trevas".
A jovem Rosália (Glória Pires) se vê obrigada a casar com o temível Senhor Monserrat (Carlos Vereza) para saldar dívidas familiares. Mas ela ama Adriano (Lauro Corona), médico recém-formado e filho de Monserrat. A simplicidade da espinha dorsal não é tropeço para o autor. Pelo contrário: serve para que componha um delicioso painel carioca do início do século.
"Direito de Amar" é estruturada em vários núcleos de personagens que se reunem num empolgante folhetim, daqueles irresistíveis –como os que fizeram a glória do gênero e colocaram a Rede Globo no centro do mundo televisivo. Dá aos fãs, de quebra, a possibilidade de matar as saudades de Lauro Corona e Cazarré, ambos mortos.
Por fim, relembra a curiosa constatação. Negrão retomava um personagem de uma outra novela sua, "Xeque Mate" (Tupi, 1976). O padre Inácio de Cazarré já havia trilhado a telenovela na pele de Elias Gleiser. São peripécias ficcionais de um tempo em que as histórias parceladas conseguiam ser mais convincentes que o real.

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