São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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Premiê quer terapia, mas sem choque

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Ao contrário de Fiodorov, o premiê russo e novo homem-forte do país, Viktor Tchernomirdin, rejeita o choque. "A Rússia precisa de terapia, mas não de choque", chegou a dizer em Davos, em uma entrevista coletiva durante o Fórum Econômico Mundial.
O que significa exatamente terapia sem choque? Para Tchernormidin, trata-se de derrubar a inflação utilizando uma política que não seja única ou principalmente monetária, o contrário da receita defendida por Boris Fiodorov.
O que torna a situação russa paradoxal é que um poderoso americano concorda com o premiê, ao menos na retórica. Fiodorov e os demais reformistas começaram a cair quando Strobe Talbott, o principal conselheiro do presidente Bill Clinton para assuntos russos, usou expressão parecida a que Tchernomirdin empregaria depois em Davos: "Mais terapia e menos choque", pediu Talbott.
"Ele nos apunhalou pelas costas", desabafou Fiodorov, ao saber da frase de Talbott.
À margem da discussão em torno de frases de efeito, o que está em jogo é mais simples: financiar ou não, com recursos do Tesouro (que não os tem), o complexo de empresas estatais que, em grande parte, se mantêm de pé, porque a privatização, por ora, atingiu fundamentalmente pequenas e médias empresas. Por choque, entenda-se sustar tais financiamentos, o que estrangularia a maioria dessas empresas. Por terapia sem choque, entenda-se continuar, ainda que dosado, o fluxo de financiamento para as empresas deficitárias.
Há uma terceira posição nessa polêmica, a de Grigory Iavlinsky, responsável pelo plano dos 500 dias proposto (e não executado) a Mikhail Gorbatchov, quando a União Soviética ainda existia. "O importante é criar competição, sem a qual não existe economia de mercado", diz Iavlinski, considerado mais reformista do que todos os reformistas que deixaram o governo em janeiro. (CR)

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