São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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Não esqueça de usar camisinha

CAIO ROSENTHAL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tenho duas pacientes há alguns anos que são duas gatas. Daquelas de chamar atenção. Uma tem 22 anos e a outra 20. Comecei a atendê-las quando tinham 18 e 15.
A história das duas está se tornando uma repetição do nosso dia-a-dia. A mais velha, quando tinha 17 anos, conheceu um amigo do irmão e logo rolou uma paixão que ninguém segurava. Viam-se quase todos os dias. Depois de um ano o relacionamento dançou, sabe-se lá por quê. Só que os amigos começaram a comentar que o carinha andava meio deprê. Ela soube que ele estava no hospital, com uma pneumonia difícil. Não deu outra, era Aids.
A garota mais nova, quando tinha 15 anos, se apaixonou pelo primo. Foi o maior sufoco. Não dava para transar, então eles resolveram ficar só nos amassos, mas a coisa acabou em relação anal. Ela jura que foi só uma vez, tudo bem. Foi paixão de verão, acabou em um mês. Depois de um tempo ela ficou sabendo que o garotão estava em uma clínica tentando se livrar das drogas. Foi feito um exame de sangue que mostrou que ele era portador do HIV. Nossa amiga contou para a mãe e também fez o exame. Deu positivo.
A que tem hoje 22 anos está internada num hospital aqui em São Paulo. Os pais têm grana suficiente que lhes permite manter a filha em hospital de bom nível e até comprar medicamentos importados quando ela precisa.
A outra de 20 anos é dura. Até hoje a mãe é que sabe e elas têm o maior medo de contar para o pai, um caretão. A mãe é professora de escola pública, ganha pouca grana. Quando a garota precisa ser internada, vai para um hospital do Estado, que é a maior barra. Falta tudo, até vaga.
Agora, falando muito francamente, eu não gostaria nem um pouco de encontrar com você em uma cama de hospital. Para a gente não se cruzar, só tem um jeito muito fácil: tem que usar camisinha.

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