São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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Nazismo leva polêmica a festival de Roterdã

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM ROTERDÃ

Dois documentários alemães –"A Maravilhosa, Horrível Vida de Leni Riefenstahl", de Ray Muller, e "Profissão Neo-nazista", de Winfried Bonengel– lotaram as sessões e criaram polêmica no 23.º Festival de Roterdã (Holanda), encerrado ontem.
Passado e presente nazistas se encontram nos dois filmes assustadores. "Profissão Neo-nazista" revela as atividades da organização criada em Toronto, no Canadá, pelo emigrante alemão Ernst Zundel. A organização vive de donativos. Cada carta que o líder abre perante as câmeras tem no mínimo US$ 20. "Tem gente que nos manda mais de US$ 10 mil por vez", ele diz. Com a fortuna arrecadada semanalmente ele produz vídeos e os remete a simpatizantes pelo mundo. Só em 92 teriam sido distribuídos 4 milhões de panfletos e 100 mil vídeo-cassetes.
O documento segue os seus passos em Auschwitz, na Polônia, onde ele provoca os visitantes dizendo que o holocausto não existiu. Mais chocante ainda é o relato do encontro de neo-nazistas de outras partes da Europa Ocidental falando das suas incursões paramilitares na Bósnia para matar sérvios.
"Profissão Neo-nazista" é a polêmica do momento também na Alemanha. Algumas cidades proibiram o filme depois da tentativa frustrada de exibi-lo no Festival de Mannheim, onde foi censurado pelo prefeito.
"The Wonderful, Horrible Life of Leni Riefenstahl", de Ray Muller, revela em 180 minutos uma cineasta ainda ativa aos 90 anos de idade. Leni é a mulher mais amaldiçoada da história do cinema. Ela se projetou como a principal colaboracionista do nazismo. "O Triunfo da Vontade" é até hoje considerado o melhor filme de propaganda política. Fez também "Olimpíada", inovando recursos de filmagens até então impensados para documentários. Nunca mais conseguiu filmar com o fim da guerra. O documentário é fascinante por revelar a vibração de Leni pelo seu passado de dançarina medíocre, atriz sofrível e cineasta genial.
Brasil
O 23.º Festival Internacional de Roterdã é o único no mundo que prestigia exclusivamente os autores do cinema independente com tratamento de superstar. Mas o que Roterdã oferece de melhor é colocar mais de 700 convidados internacionais em contato com produtores igualmente independentes plenos de recursos.

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