São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
Próximo Texto | Índice

Depois do Carnaval

A divulgação do índice de inflação da Fipe para janeiro, com ligeiro recuo na média, assim como a tentativa concomitante do Banco Central de reduzir os juros reais, na última sexta-feira, parecem episódios fadados à transitoriedade. A estabilidade da inflação ainda não está garantida.
Entre dezembro e janeiro firmou-se a percepção do novo patamar de 40%. O número surpreendeu o governo, o Banco Central elevou os juros reais e várias autoridades lançaram-se numa ofensiva de persuasão junto aos setores econômicos, alertando para o perigo de conversão a uma nova moeda num ambiente de aceleração inflacionária. O governo pressionou também as estatais, cobrando a adoção de reajustes de preços apenas para reposição da inflação, sem ganhos reais.
A partir da terceira semana de janeiro os reajustes de fato perderam intensidade. De um lado, a vigorosa alta anteriormente verificada nos preços de alimentos encontrou um limite natural na própria erosão do poder aquisitivo dos consumidores. De outro, a corrida às cadernetas de poupança desaqueceu as vendas e impediu uma inflação mais alta.
Todos esses fatores devem ser revertidos a partir das próximas semanas, com efeitos que só aparecerão plenamente nos índices inflacionários de março. Desde o final de janeiro percebe-se uma retomada das vendas no varejo e em supermercados, explicada por fatores como o reajuste iminente do salário mínimo, o retorno das férias ou a emissão de cheques pré-datados que vencerão nesta semana, junto com as poupanças "premiadas" com juros de 50%.
A partir de meados de fevereiro também terão mais força os movimentos de preparação para a entrada em vigor da URV, prometida para início de março. A tendência –dado o mistério que ainda cerca o novo indexador– é acelerar-se a inflação em cruzeiros reais até que, mais adiante, ocorra a transformação desse indexador na nova moeda nacional.
No curtíssimo prazo ninguém acredita numa subida descontrolada dos preços. Entretanto, passado o Carnaval e enquanto a URV não vem, há indicações de que deverão ser rapidamente rasgadas todas as fantasias.

Próximo Texto: Brasil fora do mapa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.