São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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Brasil fora do mapa

O Brasil parece ter sido desterrado do mapa do mundo, pelo menos em matéria de economia. Durante a edição 1994 do Fórum Econômico Mundial, que se realiza anualmente na cidade suíça de Davos, os economistas que chefiam os principais institutos de pesquisa do mundo trataram a inflação como um problema menos importante, pelo menos para os próximos dez anos. Muito mais grave, na avaliação do Fórum, é o crescente dilema do desemprego.
"Embora a inflação seja sempre um risco, ela será muito provavelmente baixa pela próxima década", anunciou o economista norte-americano Martin Feldstein. Mesmo que algumas nações, como a Alemanha, enfrentem dificuldades conjunturais na área de preços, o balanço geral indica uma redução das taxas inflacionárias no mundo. Note-se que a discussão que permitiu essa conclusão envolveu não apenas especialistas do Primeiro Mundo, mas também representantes de países em desenvolvimento, como México e China. O grande desafio –e a grande preocupação– para os próximos anos deverá mesmo ser o fenômeno do desemprego, que parece ter assumido um inquietante caráter estrutural.
Ora, o contraste entre essa perspectiva e o que acontece no Brasil é evidente. No Brasil, além do desemprego, a inflação é grande problema, não apenas da conjuntura como dos últimos dez anos. Fica a nítida sensação de que o Brasil é o ET das nações. Nem serve de consolo o fato de que outro grande país, a Rússia, enfrenta problemas semelhantes.
Essa percepção de que o país destoa do resto do mundo fica mais forte quando se sabe que a participação brasileira no Fórum de Davos foi insignificante. Pelo segundo ano consecutivo, nenhuma autoridade federal do primeiro escalão compareceu a um encontro que, pelas contas dos organizadores, reúne representantes públicos e privados de organizações que movimentam, anualmente, perto de US$ 3 trilhões, mais ou menos seis vezes o tamanho da economia brasileira.
Pior ainda: não se falou do Brasil nos debates principais. Como se 150 milhões de pessoas, uma economia de US$ 450 bilhões e 8,5 milhões de quilômetros quadrados tivessem se evaporado pela incompetência de seus quadros dirigentes.

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