São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Sobre a pornopolítica

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – O leitor de São Paulo e de outras partes por certo nunca ouviu falar do Conic. Pode-se dizer que, durante o dia, o Conic é um centro comercial. Fica no coração de Brasília, ao lado da Rodoviária, defronte à Esplanada dos Ministérios. A noite, vira o que a elegante pena de Machado de Assis chamaria de zona de mulheres-damas.
Pois bem, encurte-se a conversa. Chegue-se ao ponto: em época de eleição, os corredores do Congresso e os palanques armados nos Estados ganham a aparência dos becos soturnos do Conic. Nessa fase eleitoral, os políticos são como prostitutas bêbadas na alta madrugada: incontroláveis.
Movidos pela incerteza da reeleição, alguns congressistas perseguem a última mamata com uma fome de rameira à cata do michê derradeiro. Note-se, a propósito, o que fizeram alguns dublês de deputados e fazendeiros na semana passada: aprovaram projeto que perdoa as próprias dívidas, contraídas no crédito agrícola.
Mas é com o pé no palanque que alguns políticos se aproximam mais dos corredores fétidos do Conic. Adotam um vocabulário de fazer corar as línguas mais sujas. Relembre-se o que disse Ciro Gomes de Orestes Quércia: "É ladrão".
Reproduza-se agora o que disse Quércia de Ciro: "Porca prenha e ladrão", devolveu, em meio a outros comentários que põem em dúvida a masculinidade do governador cearense. No Nordeste, "porca prenha" é uma gíria normalmente utilizada para definir mulheres vadias.
Não se imagine que este é um fenômeno de 1994. Puxe-se da memória as ofensas que Fernando Collor dirigiu, em 1989, à senhora progenitora de Leonel Brizola. Peço licença, caro leitor, para não reproduzi-las. Um excesso de zelo, reconheço, já que o próprio Brizola parece não ter-se importado, tornando-se, depois, aliado do detrator de sua mãe.
O que há de mais perverso nesse ambiente de sarjeta eleitoral não é o que se diz, mas o que deixa de ser dito. A diarréia verbal que marca este início do ciclo eleitoral denuncia o Saara de idéias em que nos metemos. De resto, que nos perdoem as prostitutas pela comparação um tanto injusta. Estas pelo menos conhecem o seu lugar. Vagueiam defronte ao Conic, sem qualquer pretensão eleitoral.

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