São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
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Salário causa crise no São Paulo

UBIRATAN BRASIL; JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O São Paulo declarou guerra ao preparador físico Moraci Sant'Anna. Os dirigentes e o preparador têm uma reunião decisiva na manhã de hoje, no Centro de Treinamento, quando a permanência de Moraci será resolvida. "Mas não acredito que ele fique", disse o diretor de futebol Márcio Aranha. "A diferença entre as propostas é muito grande." Mais que o problema de cifras, a forma violenta em que tomou rumo a negociação é que agrava a crise no clube, que ainda sente a ausência do técnico Telê Santana, em férias em Belo Horizonte (MG). A ponto de os dirigentes já declararem que Moraci não é imprescindível ao clube.
A quebra no bom relacionamento entre Moraci e os dirigentes aconteceu no domingo, depois do empate com a Portuguesa, quando o preparador determinou que não trabalharia mais até renovar seu contrato, vencido no último dia 31 de dezembro. "Nesse esquema, não aceito mais trabalhar", disse, revoltado com o que alegou ser falta de consideração dos dirigentes. "Só fui procurado por eles em momentos inoportunos, como no vestiários depois de jogos ou nos corredores." Em seguida, Moraci viajou até Araraquara (282 km a noroeste de São Paulo), onde mora.
A atitude de Moraci irritou os dirigentes. "Não gostamos do que ele fez", disse Márcio Aranha. "Não é verdade que só o procuramos no vestiário ou nos corredores. Ele é que evitou conversar conosco em muitos momentos." Segundo o dirigente, Moraci evitou conversar depois da conquista do bi mundial, em Tóquio, alegando estar estressado. O preparador também não entrou em contato nos primeiros 18 dias do ano, aproveitando as férias. "Quando voltou, esperávamos que ele nos procurasse e não que ficasse na espera", disse outro diretor de futebol, Kalef João Francisco.
A proposta feita por Moraci, segundo Aranha, "foi absurda. Ele queria ganhar como o Telê, o que seria mais que qualquer um dos jogadores". Aranha alegou que a função de preparador não se iguala a de treinador, considerada de maior risco. "Mesmo assim, a proposta que fizemos foi muito boa." O diretor revelou que foi proposto um aumento de 45% sobre os rendimentos, dolarizados, faturados no ano passado. "Mas ele pediu um aumento de 135%, o que é absurdo."
Se manter sua proposta, Moraci poderá não ficar no São Paulo. "Ele é um grande profissional, mas, com a estrutura que o clube já tem montada, formaríamos um novo Moraci em pouco tempo. Ele não é insubstituível", declarou Márcio Aranha, que manteve um contato telefônico com Telê Santana, na noite de domingo.
O técnico não pretende interromper suas férias, que vão até o Carnaval. Na conversa, Telê garantiu que não vai interferir na negociação, "mesmo que Moraci não fique no clube". Segundo Márcio Aranha, o técnico considerou boa a proposta feita ao preparador.

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