São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Itamar manda apressar troca de moeda

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco decidiu apressar as etapas de implantação do programa de estabilização porque considera insustentável politicamente a convivência com taxas de inflação no patamar de 40%. O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, somente espera a aprovação do FSE (Fundo Social de Emergência) nos dois turnos para preparar a adoção da URV (Unidade Real de Valor) em março e a nova moeda a partir de abril.A antecipação de etapas do plano de estabilização é articulada pelo grupo palaciano, lideranças do governo e ministros. Todos avaliam que a queda da inflação se transformou numa questão de governabilidade. Essa decisão enfrenta resistência na Fazenda, especialmente do assessor especial, Edmar Bacha. Já o diretor de assuntos internacionais do Banco Central, Gustavo Franco, é mais sensível aos argumentos políticos do Planalto.Ontem, a Fazenda já admitia que o FSE que foi à votação no Congresso estava distante do Fundo desejado pela equipe econômica, em razão das modificações que sofreu. O próprio FHC vinha dizendo a parlamentares que o Fundo não era mais dele, mas do Congresso. O grupo palaciano descartava a saída de FHC do cargo em razão das alterações no FSE feitas pelo Legislativo.Já em março, com a criação da URV, o governo adotará um conjunto de medidas para evitar problemas na implantação do indexador. A política monetária será extremamente restritiva (volume pequeno de emissão de moeda e taxas de juros elevadas). Além disso, o Banco Central estuda restrições temporárias ao ingresso do capital estrangeiro para evitar que o governo tenha que emitir títulos para retirar cruzeiros reais da circulação.O cenário idealizado pela equipe de FHC era bem diferente. Esperava-se a aprovação do FSE em dezembro, criando-se a URV em fevereiro. Com isso, haveria tempo suficiente para que a população se acostumasse com a URV, que se transformaria em moeda. Com as dificuldades de negociação com o Congresso, a equipe terá que se adaptar às contingências políticas ou deixar o governo, a exemplo de André Lara Resende (ex-negociador da Dívida Externa) e Francisco Pinto (ex-diretor de Política Monetária do Banco Central).Segundo a Folha apurou, ao contrário do discurso oficial de FHC, o governo se prepara para enfrentar problemas jurídicos na fase de transição da URV para a nova moeda que substituirá o cruzeiro real. Será inevitável a edição de medida provisória fixando os critérios de conversão do cruzeiro real para nova moeda, que será criada a partir de abril. Ainda não foi definido se ela virá já em abril ou em maio.A Fazenda vai fixar como parâmetro a média nos últimos quatros meses, que sofrerá alterações com relação a aluguéis (será a média do prazo de contrato fixado para reajuste). Num esforço de evitar dificuldades jurídicas, a equipe decidiu manter a TR (Taxa de Referência), que serve de base de referência para a caderneta de poupança e vários contratos de médio prazo.

Texto Anterior: Justiça determina desocupação de fazenda; sem-terra ameaçam resistir
Próximo Texto: Ministro tenta ratificar tratados no Congresso
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.