São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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Rato crocante é de lamber os beiço

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A vida é mesmo uma patuscada. Justo agora que aderi a uma feroz dieta alimentar para me refazer dos abusos das festas (subentenda-se: além das festas de fim-de-ano há que se computar também as ocorridas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 1993), o Kentucky Fried Chicken resolveu abrir uma loja do lado de casa. Tudo bem, o KFC não é nenhum Tour d'Argent, mas no Brasil é bem mais higiênico do que em certos países do Primeiro Mundo. Como a Inglaterra, por exemplo.
Em 1976 eu morava em Playford, um vilarejo inglês às margens do Orwell, rio que Eric Blair homenageou ao adotar o "nom de plume" George Orwell. Pois justamente naquele ano, Playford tremeu devido ao eletrizante caso do rato que bagunçou o coreto da KFC. O roedor foi manchete de todos os jornais da redondeza.
Na loja local da Kentucky Fried Chicken, ele embrenhou-se na engrenagem da máquina que corta e empana o frango. Acabou descoberto quando um cliente abriu sua embalagem para viagem e o encontrou cortado em nove pedaços supercrocantes –com rabo à milanesa e tudo. Aquele dia, na distante Kentucky, o Coronel Saunders, inventor da fórmula crocante do frango KFC, deve ter sacudido no túmulo de tal forma que acabou virando a galinha azul.
Mais tenebroso, porém, do que dar de cara com um rato empanado é o regime que estou fazendo. Por indicação do amigo José Maurício Machline, marquei hora com um doutor que atende na Pompéia. Como não faz nada o dia todo, minha fiel amiga Dolores de Pança me acompanhou. Durante a consulta, ela quis aguardar na sala de espera, mas eu insisti: "Entra comigo, vai? O que pode haver de tão confidencial?"
Antes Dolores não tivesse entrado. Imagine só, a primeira pergunta do doutor, depois de indagar nome, idade, endereço e profissão, foi: "Suas fezes bóiam ou afundam?" Isso lá é pergunta que se faça a uma dama? Indignada, "chupei" o pau da barraca: "Nunca reparei, acho que saem nadando em estilo crawl."
No dia seguinte, refeita do susto, percebi que a estranha pergunta fazia sentido. Mas na hora fiquei tão horrorizada, que até agora não consigo lembrar se é mais saudável quando flutuam ou afundam.

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