São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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Robô monta bicicleta, pinta geladeira e esmalta bidê

RODOLFO LUCENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pintar geladeiras, montar bicicletas e carregar delicados cinescópios de monitores de vídeo são algumas das novas atribuições de robôs no Brasil, onde até pouco tempo eram quase exclusivos das indústrias automobilísticas.
Nas montadoras, os braços articulados, que podem ter na ponta uma ferramenta ou uma garra, estão dedicados a tarefas em ambientes hostis ou trabalhos insalubres, como solda e pintura. Comandados por computador ou sistema computadorizado, os robôs garantem uma precisão e uma repetibilidade que o operador humano não consegue atingir.
Um robô pequeno, capaz de movimentar cargas de até 5 kg, custa a partir de US$ 50 mil –o preço já foi de US$ 100 mil, há cinco anos. A queda de preços e as exigências de qualidade e produtividade para enfrentar a concorrência de produtos importados ou disputar espaço no mercado internacional impulsionam a expansão do uso dos sistemas.
Até 1992, a Asea Brown Boveri (ABB), maior vendedora de robôs no país, tinha apenas montadoras de veículos entre seus clientes. No ano passado, o leque se abriu e hoje 10% das vendas são fora do setor automobilístico.
"Vamos multiplicar por dez a nossa produção", festeja Felipe Game Elias, diretor industrial da TBA (Transformação Brasileira de Alumínio), fabricante das bicicletas Three Heads. A empresa está instalando um robô no setor de montagem de conjuntos para solda, terá outro para pintura e mais três na montagem de bicicletas.
A produção das mountain bikes de 18 ou 21 marchas vai passar de 400 por mês para 5.000 por mês; a de peças dispara de 400 mil para 1 milhão por mês. O melhor: graças ao robô, a pintura das bicicletas poderá ser personalizada, com cores e desenhos ao gosto do freguês.
Pintar também é a tarefa do robô que a Brastemp está implantando. Segundo a empresa, a máquina vai alcançar pontos de portas de geladeiras que o sistema atual não atinge, eliminando a necessidade de retoques manuais.
A Incepa, fabricante de louças sanitárias, está instalando um braço articulado programável em sua linha de esmaltação –sistema que dá a cor e o aspecto vitrificado da louça. É um trabalho insalubre, em que os operadores, mesmo usando máscara, correm o risco de contrair uma doença pulmonar irreversível, a silicose.
"Na Europa, já não existe mais esse serviço feito pelo homem", afirma Nelson José Brescia, gerente de engenharia da Incepa. Em função do baixo custo da mão-de-obra brasileira, porém, a empresa não tinha conseguido, até agora, justificar para a matriz suíça a implantação do sistema.
Segundo ele, "a justificativa foi o sistema de produção em linha" (novo modo de fabricação que a empresa vai passar a usar, automatizando processos). O robô vai trabalhar em três turnos."Ele elimina os riscos dos operadores, diminuindo gastos com indenizações; reduz o desperdício do esmalte, porque a aplicação é mais precisa; e aumenta a qualidade do produto", diz Brescia.
Apesar das vantagens, o número de robôs no país ainda é muito pequeno, ficando em torno de 300, de acordo com estimativa de Roberto Camanho, presidente da Sociedade Brasileira de Comando Numérico e Automação Industrial. Mas o mercado, que girou em 1993 entre US$ 15 milhões e US$ 20 milhões, está se movimentando: só a ABB espera vender cerca de cem sistemas neste ano.

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Sobre robôs à pág. 6-4.

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