São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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Incerteza sobre paz impede a ação militar

TONY BARBER
DO "THE INDEPENDENT"

Mais de dois anos e meio depois do início das guerras na ex-Iugoslávia, o Ocidente ainda não tem certeza sobre os arranjos políticos e territoriais que poderiam modelar a paisagem do pós-guerra nos Bálcãs. Esta incerteza leva alguns políticos ocidentais a dizer que ataques aéreos contra alvos sérvios-bósnios em volta de Sarajevo poderiam até mesmo piorar a situação, enquanto o Ocidente não tiver uma perspectiva clara do que se deseja para a região.
"A pergunta a se fazer não é 'podemos bombardear alguns alvos, destruir algumas instalações e matar algumas pessoas?' e sim 'qual seria o efeito político?"', disse o secretário norte-americano de Defesa, William Perry. "Se os ataques aéreos forem o primeiro ato de um novo roteiro, qual será o segundo? E o terceiro? Qual será a conclusão?"
O primeiro-ministro da Suécia, Carl Bildt, também advertiu que a guerra não vai acabar, com ou sem ataques aéreos ocidentais, a não ser que sérvios, croatas e muçulmanos se mantenham à mesa de negociações.
A abordagem inicial do Ocidente foi insistir que a Bósnia era um país indivisível, cujo direito à independência se fundamentava num referendo aprovado pelos muçulmanos e croatas, mas boicotado pelos sérvios.
Em janeiro de 1993 esta posição se convertia no plano Vance-Owen, que previa a reorganização da Bósnia em dez regiões autônomas. Cada nacionalidade receberia três províncias e Sarajevo teria um estatuto especial. Esse plano caiu em maio do ano passado e os países ocidentais aventaram a idéia de definir e proteger seis "refúgios seguros" muçulmanos na Bósnia.
Embora a Bósnia devesse nominalmente permanecer sendo um Estado único, estava claro que as partes sérvias e croatas buscariam fundir-se respectivamente com a Sérvia e a Croácia.
Isso suscitou dúvidas sobre que tipo de garantias internacionais seriam necessárias para uma futura república muçulmana remanescente e quem poderia assegurá-las. De qualquer modo, uma divisão da Bósnia em três partes étnicas exigiria transferências maciças de civis, pois a república ainda contém várias comunidades mistas, apesar de quase dois anos de matanças e expulsões forçadas.
O Ocidente nunca se empenhou a fundo na divisão da Bósnia. Enquanto a União Européia vem tentando persuadir os muçulmanos de que a divisão tripartite interessa a eles, EUA e Alemanha argumentam que os muçulmanos não devem ser pressionados a aceitar qualquer acordo injusto.
Não está claro se os ataques seriam em nome da divisão da Bósnia ou em nome de preservá-la um Estado único. Assim como não está claro como um ataque às posições sérvias bósnias em volta de Sarajevo poderia interromper a guerra muçulmano-croata na Bósnia central e meridional.
Os aspectos mais consistentes da política ocidental na Bósnia têm sido as forças de paz da ONU e a ajuda humanitária. Mas, como apontou Bill Clinton, Reino Unido, Canadá, França e Espanha, que mantêm tropas no local, têm uma visão diferente da guerra do que países como os EUA e a Alemanha, que não mantêm tropas ali.

Tradução de Clara Allain

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