São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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Exemplo e contra-exemplo

Enquanto no Brasil, na melhor das hipóteses, espera-se aprovar no mínimo em abril de 1994 o Orçamento de 1994, nos Estados Unidos o presidente Bill Clinton já encaminhou, para vigorar no ano fiscal que vai de outubro de 1994 a setembro de 1995, o que será, segundo suas palavras, "o mais duro Orçamento já apresentado ao Congresso". A proposta prevê pesados cortes de pessoal, com a dispensa de 181 mil funcionários públicos, sendo 96 mil civis e 85 mil militares.
O atraso brasileiro, como se vê, não é apenas de cronograma. Aqui a racionalização da máquina estatal tornou-se o consenso retórico que jamais se coloca em prática. E o funcionalismo, civil e militar, especializou-se na defesa dos interesses corporativos –vide a difícil negociação do Plano FHC no que se refere aos gastos com pessoal.
O Orçamento de Clinton prevê o fim de 115 programas federais e cortes em 300. Os gastos do Pentágono também serão reduzidos. A programação orçamentária reflete assim as mudanças históricas dos últimos anos, no sentido da racionalização da ação do Estado (até em áreas sociais) e desmilitarização.
Entretanto, feitas as contas, o novo Orçamento ainda é deficitário em US$ 176 bilhões, desequilíbrio próximo daquele de 1994 (US$ 180 bilhões), mas muito menor do que o verificado no ano anterior, último da gestão Bush (US$ 320 bilhões). Apesar de existir uma proposta republicana de obrigar, por emenda constitucional, o Executivo a zerar esse déficit, o governo Clinton pretende no máximo reduzi-lo nos próximos cinco anos. O governo dos EUA pode dar-se ao luxo de continuar deficitário, pois conta com uma moeda aceita internacionalmente e títulos que desfrutam da confiança dos investidores.
Nesse caso, portanto, os EUA servem como contra-exemplo para o Brasil. Aqui, o governo não dispõe desse raio de manobra. Quando cada grupo de interesse defende às cegas seus privilégios, mas o Tesouro não pode transferir a conta para o resto do mundo, o resultado é mais inflação e maiores sacrifícios para todos os cidadãos brasileiros.

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