São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A cântaros

Intempéries há por toda parte. Do frio polar que congelou os EUA às chuvas que afogam o Estado de São Paulo, a natureza, indiferente aos desejos ou necessidades do homem, segue seu curso. Ocorre, porém, que a fúria dos elementos não se faz sentir igualmente sobre todos. Em países ricos como os EUA e o Japão, poderosos terremotos costumam deixar um saldo relativamente pequeno de mortos. Em países miseráveis como a Índia e a Armênia, tremores às vezes até mais fracos alcançam facilmente a cifra das dezenas de milhares de mortes.
Também em São Paulo, os prejuízos com as chuvas são desiguais. Barracos são bem mais suscetíveis à força das águas que as construções comuns. Há que se considerar ainda que, frequentemente, os bairros mais humildes se localizam nos fundos de vale e beiras de rios, regiões em que as inundações são muito mais violentas.
Já o caos verificado nas estradas paulistas se deve principalmente ao desgoverno do Estado. Com efeito, apesar de ainda ser a unidade federativa mais rica da União, São Paulo vem já há tempos sentindo os efeitos da má administração e da falta de prioridades acumuladas em seguidas gestões. Entre os recursos desperdiçados pela ineficiência e gastos com obras escolhidas pelo seu impacto eleitoral, os governadores paulistas vêm sucessivamente esquecendo-se de manter conservadas ou mesmo modernizar as estradas já existentes. Em consequência desse "esquecimento", pontes caem, barreiras desabam e o trânsito simplesmente pára.
Como o homem não pode evitar a revolta da natureza, só lhe resta tentar minimizar seus potencialmente catastróficos efeitos. No caso brasileiro, esse esforço passa por uma maior atenção dos governantes para com a manutenção de ruas e estradas e a política de ocupação do solo. É preciso, principalmente, que o país administre de forma eficiente seus recursos públicos. Ao contrário da chuva, o dinheiro público não cai do céu.

Texto Anterior: Exemplo e contra-exemplo
Próximo Texto: A fase do cacife
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.