São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 1994
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CD continua bem atual

DA REPORTAGEM LOCAL

Também recusado dez anos atrás pelas gravadoras, "Let's Play That" chega às lojas através do Rock Company, selo alternativo sediado em Porto Ferreira, no interior paulista. Com quase uma hora de duração, registra uma livre e intimista "jam session", gravada "ao vivo" em estúdio. O projeto nasceu durante uma visita ao Rio de Janeiro do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos (radicado nos EUA há mais de 20 anos), em novembro de 1983.
"No final dos anos 60, a gente costumava passar horas improvisando, com o disco 'Axis: as Bold as Love', do Jimi Hendrix, tocando numa vitrolinha", lembra Macalé. A gravação aconteceu graças ao interesse de um amigo de Macalé, o empresário Claudio Cohen, que bancou as fitas e as seis horas de gravação no estúdio carioca Transamérica.
Morto cinco anos atrás, em um acidente automobilístico, Cohen (a quem Macalé dedica o CD) nem chegou a ouvir a fita. O mesmo aconteceu com o clarinetista Roberto Guima (toca na faixa "Pano pra Manga"), morto por afogamento meses após a gravação. Mais uma maldição? "Nem pensar"', diz Macalé, procurando um móvel de madeira para isolar o azar.
A vibrante faixa-título (parceria de Macalé com o poeta Torquato Neto) abre e fecha o disco. Com Jorge Mautner, Macalé assina a rumba abolerada "'Puntos Cardenales", inspirada, de modo bizarro, em um discurso de Fidel Castro. Além de parcerias com Xico Chaves, Macalé também musicou fragmentos dos "Cantos", do poeta Ezra Pound.
Mais até do que sua desencontrada história, é surpreendente como o disco permanece atual, contemporâneo –os desavisados vão pensar que Macalé e Naná o gravaram há pouco. A liberdade, o descompromisso e o improviso da sessão certamente explicam. Boa música não envelhece. (CC)

Título: Let's Play That
Músicos: Jards Macalé (violão e voz), Naná Vasconcelos (percussão) e Roberto Guima (clarinete)
Lançamento: Rock Company (tel. 0195\81-2783)
Preço: CR$ 7.000 (em média)

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