São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Estradas de SP superam preços de mercado

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de São Paulo está construindo estradas por um custo três vezes mais alto do que o preço praticado atualmente no mercado. As obras de duplicação da rodovia SP-326, que liga os municípios de Matão a Bebedouro (383 km a noroeste da Capital), estão entre as mais caras construções licitadas nos últimos anos no país.
O contribuinte paulista está pagando US$ 4,60 milhões por cada quilômetro desta rodovia. As obras de duplicação dos 88 quilômetros da estrada, contratadas pelo governo Fleury, têm um orçamento de US$ 405 milhões. Obras semelhantes da rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo e Minas, irão custar US$ 1,35 milhão por quilômetro –3,4 vezes menos do que a Matão-Bebedouro.
Nem mesmo as obras previstas para o sistema rodoviário Anhanguera-Bandeirantes, em São Paulo, teriam preços tão elevados. Contratadas no governo Quércia (87-91), sairiam a US$ 2,93 milhões por quilômetro, bem abaixo do custo da Matão-Bebedouro.
O mais curioso: os gastos com a Anhaguera foram considerados altos pela própria equipe da Secretaria dos Transportes do governo Fleury, que cancelou os contratos com as empreiteiras, no mês passado. As obras não haviam sido iniciadas. Os altos preços dos contratos atrapalhariam, segundo avaliação feita por técnicos da Secretaria, o projeto de privatização do sistema Anhanguera-Bandeirantes.
Na comparação com o preço praticado hoje no mercado, não só a Matão-Bebedouro pode ser considerada uma obra de duplicação de estrada com custos elevados.
Levantamento feito pela Folha, a partir de documentos oficiais do Dersa (Desenvolvimento Rodoviário) e DER (Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo) revela que mais sete obras de rodovias contratadas pelo governo Fleury irão custar mais que o dobro do que valeriam.
A duplicação da SP-334, que liga Ribeirão Preto a Franca (401 km ao norte de São Paulo), vai custar US$ 2,94 milhões o quilômetro –muito além do US$ 1,35 milhão com o qual será tocada a duplicação da Fernão Dias. A SSP-334 tem uma extensão de 83,5 km e um orçamento de US$ 246 milhões. (Veja em quadro desta página as outras rodovias que têm previsão de gastos acima do valor de mercado).
Um detalhe que chama a atenção é que uma mesma construtora pode oferecer preços os mais variados para obras semelhantes, como a duplicação de estradas. A OAS e Tratex, que irão fazer a Fernão Dias por US$ 1,35 milhão o quilômetro, são as mesmas empreiteiras que fazem parte do grupo das dez empresas responsáveis pela Matão-Bebedouro, 3,4 vezes mais cara.
Três técnicos de empreiteiras e dois do próprio governo de São Paulo, ouvidos pela Folha, atestam que as obras de duplicação não possuem diferenças que justifiquem a disparidade de preços.
A Matão-Bebedouro tem a participação das seguintes empreiteiras: Queiroz Galvão, OAS, Tratex, S/A Paulista, Triunfo, Sanches Tripolini, Sobrenco, Carioca, Encalso e Mendes Junior.

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