São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Fundação Pró-Sangue desconhece crise

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio ao naufrágio da saúde pública no Brasil, permanecem à tona no turbilhão de penúria, atraso e desperdício uns poucos salva-vidas. Um deles é a Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo, instituição que gera 90% dos recursos que consome, tem 45% de pessoal com nível superior e cujos médicos ganham em média o equivalente a US$ 2.000 por uma jornada de oito horas.
Entre os 270 serviços prestados pela Pró-Sangue está a fabricação de albumina, hemoderivado fundamental para tratar queimados, por exemplo. Além da Fundação, que produz 15 mil frascos/ano, o único órgão público capaz de fabricar a substância é o pioneiro Hemocentro de Pernambuco (leia abaixo).
Criado em 1983, a Pró-Sangue é hoje o maior hemocentro da América Latina, com 20 mil doações por mês. Seu orçamento para 1994 é de US$ 52 milhões, entre recursos do Tesouro estadual (10% do total) e os gerados internamente, que garantem somente a manutenção ds serviços prestados em 1993. Projetos novos, como a produção de fatores 8 e 9 para hemofílicos (veja glossário ao lado), demandariam US$ 25 milhões adicionais, que a Fundação pretende buscar junto à iniciativa privada.
E não é apenas dinheiro que a instituição vai buscar no mundo empresarial. Os métodos de administração ali utilizados, que permitiram elevar a produtividade na realização de exames de sangue em 72% no prazo de quatro anos, por certo não são característicos do setor público. "No Brasil, a saúde não sabe quanto ela custa", afirma José Luiz Portella, 41, diretor-administrativo.
Segundo Portella, foi na gestão de Dalton Fischer Chamone, atual presidente da fundação, que se inverteu a relação de dependência de verbas governamentais. O instrumento principal foi um sistema de cálculo de custos minucioso, baseado na metodologia alemã CRKW de tarifas públicas. "Sabemos exatamente quanto custa cada um dos nossos 270 serviços, com atualização mensal", afirma o diretor.
O maior cliente é o Hospital das Clínicas, onde a fundação está instalada, com cerca de 37% da demanda. Daí provém o fluxo principal de doações, de parentes e amigos de pacientes, os chamados doadores vinculados (mais de 90% do total). Como cada paciente consome em média o equivalente a dez doações e é muito alta a porcentagem de descarte entre os vinculados (20%, contra 8% a 10% dos voluntários), torna-se um desafio mudar essa relação.
Aqui também a Pró-Sangue foi buscar a saída na sociedade, junto às centrais sindicais. CGT, Força Sindical e CUT firmaram convênios para doação de sangue em porta de fábricas. Graças a isso, a participação da coleta externa subiu nos dois últimos anos de 5% para cerca de 12% do total.

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