São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Brasil tenta evitar as sanções norte-americanas

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto nas passarelas do país mestres-salas e porta-bandeiras da Camisa Verde e Branco e Vai-Vai, Mangueira e Salgueiro lutam pela hegemonia do samba, em Washington, uma ofensiva diplomática brasileira tenta evitar à última hora os enormes prejuízos que podem resultar da aplicação de sanções econômicas dos EUA contra o Brasil em retaliação à demora da aprovação da lei das patentes pelo Congresso brasileiro.
Aprovada em maio pela Câmara, a lei está desde então parada no Senado. Os EUA deram um prazo até o dia 28 de fevereiro para que o Brasil tenha uma lei de patentes. A retaliação virá na forma de sobretaxas às principais exportações brasileiras para os EUA. Os produtos mais visados são calçados, suco de laranja e papel.
O embaixador brasileiro em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, expõe os argumentos do Brasil junto aos secretários de Estado dos EUA de Relações Exteriores e de Comércio para uma prorrogação do prazo.
Empresários liderados pelo presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, tentam convencer os líderes norte-americanos das áreas farmacêutica e agroquímica de que a abertura da economia brasileira mostra a decisão do país de buscar sua inserção na economia mundial.
O presidente da Câmara Americana de Comércio de São Paulo, Brian Hill, acredita no sucesso da diplomacia. "A melhor maneira de se alcançar um resultado positivo são as negociações entre os governos dos dois paísess", disse.
Para Hill, uma "rápida" solução seria o Brasil se comprometer junto aos EUA a adotar as normas sobre patentes e propriedade industrial aprovadas pela rodada do Uruguai das negociações sobre a liberalização do comércio mundial no âmbito do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio).
Pratini disse que a adoção de uma lei das patentes no país não significa ceder às pressões dos EUA. Ele acredita que o esforço do Itamaraty deve resolver o assunto e evitar o azedamento nas relações entre Brasil e EUA.
O presidente do Comitê de Comércio e diretor da Câmara Americana de Comércio de São Paulo, Sérgio Haberfeld, traz uma voz de pessimismo ao impasse das patentes entre Brasil e EUA. Embora não descarte um eventual sucesso da tentativa diplomática, Haberfeld disse que não tem dúvida de que as retaliações virão.
"O Brasil é um dos poucos países latino-americanos que tem superávit comercial no comércio bilateral com os EUA e ainda não adotou uma lei de patentes", disse. "O setor de calçados, com exportações de quase US$ 1 bilhão para os EUA, é o principal alvo da linha de fogo das sanções norte-americanas", afirmou.

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