São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Empresa investe para reabilitar imagem

OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Desgastada pelas denúncias de corrupção, a Odebrecht intensifica a campanha para tentar reabilitar sua imagem junto ao público. O convite a um grupo de jornalistas para visitar recentemente as obras da empreiteira em Miami faz parte dessa estratégia.
O programa de relações públicas da Odebrecht deve ganhar impulso em março, quando será inaugurada em Campos, no Rio, a maior plataforma de exploração de petróleo do mundo, que a Odebrecht construiu. Depois do evento, a empresa vai trazer para o Brasil jornalistas da grande imprensa internacional. Além disso, as comemorações dos 75 anos da fundação do grupo deverão incluir intensa campanha institucional.
A Odebrecht tem orçamento anual de US$ 1 milhão para esse tipo de programação. A verba é administrada por uma diretoria de comunicação social –criada em 92, quando as acusações começaram a se avolumar– e não inclui gastos com a propaganda veiculada para negar denúncias que vêm à tona.
A Folha apurou que a diretoria da Odebrecht fez uma reunião em dezembro para decidir qual iniciativa tomar em função das denúncias. Os diretores concordaram que, a partir de agora, não mais aceitarão abordagens de parlamentares que possam colocar a empresa na posição de refém de uma situação.
Chegou a ser cogitada a hipótese de se assumir publicamente a opção, o que daria maior credibilidade à tentativa da empreiteira de se adptar aos novos tempos, marcados pela maior transparência do processo de licitação pública. A Odebrecht, no entanto, preferiu não ir tão longe para não permitir a interpretação óbvia, de que tal colocação implicaria admissão de culpa.
Modelo americano
A Odebrecht está aproveitando sua experiência recente nos Estados Unidos para argumentar que o Brasil deveria moldar sua lei de licitações públicas na prática americana. O modelo americano é tradicionalmente baseado no seguro-garantia –um instrumento de crédito que garante prazo e preço das obras.
Uma vez vetado pelo presidente Itamar, o seguro-garantia voltou a ser discutido por conta de uma medida provisória que reabriu a questão. Hoje é o ponto mais polêmico do projeto de conversão da nova lei de licitações que está em debate no Congresso.
A estratégia da empreiteira é responder as críticas dos que se opõem ao seguro-garantia com seu próprio exemplo. Aos que sustentam que o sistema privilegiaria as grandes empreiteiras, a Odebrecht tenta mostrar que se trata do contrário. "Aqui em Miami nós somos pequenos e estamos nos beneficiando", diz Luis Oswaldo Lopes Leite, vice-presidente da Odebrecht Contractors of Florida, subsidiária da Construtora Norberto Odebrecht que opera desde 91 nos EUA.
Segundo John Beltran, presidente de uma agência americana que faz a ponte entre seguradoras e empreiteiras, o mecanismo é simples. Primeiro, a seguradora avalia a capacidade técnica e financeira da empreiteira. Depois, com base nessa avaliação, estabelece um valor para o conjunto de obras que a empreiteira pode tocar ao mesmo tempo.
Esse valor, diz Beltran, é em geral muitas vezes superior ao capital da empresa, o que funciona como fator de alavancagem porque os bancos se baseiam nesse número para fazer empréstimos. Mas serve também para frear vôos mais arriscados porque, além do limite estipulado, a seguradora não garante o interesse público e nem o de trabalhadores e fornecedores.
Beltran, que é contratado da Odebrecht, acha que o seguro-garantia é acessível a pequenas empresas porque não há necessidade de depósitos, como ocorre com as cartas de crédito.

O jornalista OSCAR PILAGALLO viajou a Miami a convite da Odebrecht.

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