São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Odebrecht queixa-se de"armação" no exterior

Concorrentes estariam enviando dossiês para clientes

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Odebrecht queixa-se de"armação" no exterior
Companheiros de infortúnio no Brasil, são adversários implacáveis quando o assunto é dinheiro. Vilões da vida nacional desde o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, as empreiteiras estão agora divididas na disputa por espaços no mundo dos negócios e denunciados viram denunciantes. A maior delas, a Construtora Norberto Odebrecht, afirma que há uma armação das concorrentes nacionais contra ela em território estrangeiro. Onde ela se mete, dos Estados Unidos a Portugal, segue atrás um monte de dossiês repetindo as denúncias de corrupção levantadas contra a Odebrecht.
"Não há lugar com obra nossa que o cliente não receba um calhamaço de documentos contra a gente", afirma Renato Baiardi, vice-presidente da Norberto Odebrecht. "Nenhum contrato foi desfeito, mas cria um mal estar tremendo." A empreiteira não perdeu obras, mas já se meteu em algumas encrencas por conta do repasse de denúncias e provocou um prejuízo de US$ 7 milhões até agora. Trata-se da construção da Barragem de Seven Oaks, na Califórnia, no Distrito de San Bernardino, uma das maiores obras dos Estados Unidos, orçada em US$ 200 milhões, e que deveria ter começado em outubro de 1993.
A Odebrecht venceu a disputa, mas não levou até agora. O segundo colocado na concorrência, a Tutor Saliba, uma das grandes empreiteiras americanas, entrou com recurso junto ao cliente, a Divisão de Engenharia das Forças Armadas dos Estados Unidos. Ela alegou falta de integridade ética para a Odebrecht ganhar a obra de Seven Oaks. Segundo Baiardi, a Odebrecht venceu o contencioso na primeira instância de discussão, mas o caso foi parar no equivalente ao TCU, o Tribunal de Contas da União do Senado americano.
"Basta sair uma novidade contra nós que no dia seguinte temos de explicar", conta Baiardi. "Rebatemos com o argumento principal de que nenhuma prova foi apresentada até agora de tudo o que está sendo dito." O executivo baiano esteve na Califórnia na semana passada e voltou mais sossegado. "Estamos com a bala na agulha para começar a obra, vamos vencer o contencioso", acredita.
Por sentir a rapidez com que as denúncias no Brasil chegavam aos clientes internacionais, a Odebrecht mobilizou escritórios de advocacia americanos para descobrir a origem dos dossiês. A empresa está convencida, hoje, que os autores do repasse das denúncias são concorrentes seus, aqui do Brasil mesmo.
O motivo é que a Odebrecht tem sete obras em andamento nos Estados Unidos e perder Seven Oaks vai significar a frustração de um dos projetos mais ambiciosos da empreiteira. "Se perderemos Seven Oaks, vamos ter que bater em retirada do território americano", admite Roberto Dias, diretor institucional da Odebrecht. "E isso interessa a muita gente."
Metida em encrencas até o pescoço no Brasil, a Odebrecht quer ganhar dinheiro no exterior. No ano passado, a empreiteira faturou US$ 2,2 bilhões, metade por conta de obras no exterior. Para 1997, a construtora pretende dar uma salto para um faturamento total de US$ 4 bilhões. Só que US$ 3,6 bilhões virão de outros países e apenas US$ 400 milhões do Brasil.
"Não vamos abdicar do mercado brasileiro, mas percebemos que era a hora de tirar todos os ovos daqui", conta Dias. "Agora, todo esse serviço de contra-informação contra nós atrapalha muito."A empresa tem obras em 12 países.

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