São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Índice

Rede cresce no Paraná e ganha título de eficiência

MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

A rede de supermercados Mercadorama, com 11 lojas no Paraná e prestes a inaugurar sua 12ª unidade, é considerada, pelos critérios da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) e pelos analistas de mercado do instituto de pesquisas Nielsen, como a mais eficiente do país em termos de estrutura operacional e uma das que apresenta a melhor rentabilidade.
A tradução do que representa a rede Mercadorama pode ser buscada junto à sua loja mais recente, um hipermercado inaugurado no ano passado na cidade de Londrina (PR). Com ele, o descendente de ucraniano Roberto Demeterco, à frente dos negócios da família e da vice-presidência da Abras, entregou ao país uma das lojas de auto-serviço mais modernas do mundo.
É a primeira loja que utiliza um sistema capaz de avisar o fornecedor, via computador, todas as vezes que seu produto passar pela caixa registradora.
*
MENTALIDADE
Meu pai sempre foi interessado no negócio. Queria saber dos vendedores como eram os armazéns nos Estados Unidos, lia tudo que caia nas suas mãos, ia atrás de publicações sobre o varejo. Isso há 50 anos. Sem condições de estudar, foi um autodidata. Pegamos amor pelo negócio desde criança. Tínhamos orgulho de fazer pacotes na época do Natal quando tínhamos sete ou oito anos. Assim fazemos com nossos filhos. Só que hoje eles são encaminhados para fazer faculdades de administração e estágios em lojas de tecnologia de ponta nos Estados Unidos.

PIONEIRO
Em 1955 fomos os primeiros, no Paraná, a introduzir lojas de auto-serviço. Meu pai tinha um armazém bonito com vitrines repletas de bebidas importadas. Foi triste acabar com aquilo. Mas, na época, o vendedor do balcão influenciava muito a decisão de compra do consumidor. Naquele tempo era difícil falar com o fornecedor, uma ligação interurbana demorava dias. Éramos visitados pelos vendedores, e ficava impossível controlar as comissões pagas pelo fornecedor para o balconista empurrar determinada marca. Com o auto-serviço o consumidor se emancipou dessa situação. Embora a disposição dos produtos nas prateleiras acabe influenciando a escolha do consumidor.

OLIGOPÓLIOS
O supermercado é uma peça importante na escolha da decisão do cliente, e tem responsabilidade de prestigiar marcas alternativas de comprovada qualidade. Do contrário, ficaremos, nós e os consumidores, cada vez mais nas mãos dos oligopólios. O setor de sabão em pó, por exemplo, é controlado em 90% por dois fornecedores. Temos a obrigação de colocar outros em condições de boa visibilidade, de modo que o consumidor perceba as opções.

CANO ENTUPIDO
A fidelidade por marca diminuiu. A recessão obrigou o consumidor a avaliar preço e marca. Não podemos ser o cano entupido do processo, bloquear uma nova marca só porque ela não está na TV ou não teve condições de receber verbas astronômicas de marketing. É complicado para um fornecedor pequeno entrar numa grande rede -até porque acaba não conseguindo condições de preços e prazos para pagamento que uma grande indústria, pelo volume vendido, consegue. Mas o supermercado tem que dividir com o fornecedor alternativo esse sacrifício.

BRECAR O DUMPING
Há alguns anos tivemos uma tentativa clara de dumping em Curitiba. Um grande fornecedor de aves segurou o preço para brecar o crescimento de uma marca regional, cujo produto era reconhecidamente de qualidade, tinha o carimbo do SIF, embalagem superior e preços mais acessíveis. Para nós, entrar no jogo era uma tentação, porque teríamos, no curto prazo, preços abaixo do custo de produção para um produto de forte apelo popular. Algumas redes, a minha incluída, decidiram vender o produto do fornecedor menor pelo preço de custo, sem colocar margem de revenda. Isso durou um bom tempo, mas no final, o grande fornecedor desistiu. O que será do consumidor se permitirmos o dumping?

CONTROLE DE PREÇOS
Os supermercados têm um papel imprescindível enquanto estabilizador de preços. Temos o poder de expor o produto, de comprá-lo ou não. Podemos determinar, com essa atitude, uma menor pressão de preços, e isso já estamos fazendo. Hoje existe uma grande resistência por parte do supermercadista em comprar produtos que foram reajustados acima da inflação.

MÚLTIS
Por outro lado, quando o governo levanta listas de empresas que puxam preços nos supermercados, é necessário lembrar que parcela considerável delas tem custos elevados em investimentos, pesquisas e tecnologia de ponta. O que uma Nestlé fez pelo país, por exemplo, não é brincadeira. Eles simplemente tornaram possível você enviar leite para os lugares mais distantes. É o caso da Gessy Lever, que trouxe, como exemplo, um detergente que não estraga as mãos- ou a Refinações de Milho Brasil, ao colocar nas prateleiras uma maionese que mantém a textura e a qualidade nas mais diferentes temperaturas. Existe a preocupação com a questão dos preços dos oligopólios, mas é inegável que os grandes grupos trazem um desenvolvimento incrível.

ADMINISTRAR A FAMÍLIA
Somos em dois irmãos e uma irmã controladores do grupo. Cada um tem áreas definidas e já começamos a preparar a terceira geração. Fica na empresa quem realmente gostar de atividades ligadas ao varejo. Quem tem alta tecnologia de ponta e gente motivada consegue resultados expressivos de segurança e estabilidade.

NATALIDADE
Temos centro de treinamento de funcionários, colégio interno e damos cursos de prevenção na área de saúde. As pessoas têm que ter filhos quando elas quiserem. O que não pode ocorrer, como havia antes, é a existência de meninas de 15 anos que engravidavam sem a mínima consciência sobre o que estavam fazendo. Devido a cursos de orientação, de cinco anos para cá a incidência de gravidez em nossa rede caiu 60%.

DESPERDÍCIO
Em nossas lojas estamos comercializando o maior número de itens possível em containers. Os de hortifrutis, por exemplo, saem da roça direto para a loja. Fizemos avanços na eliminação do desperdício e no ganho de produtividade. O sistema está sendo estendido para a comercialização de arroz, feijão, óleo e bebidas, e funciona com os fornecedores regionais. Com indústrias localizadas fora do Paraná já fica mais difícil. É que o container acaba sendo transportado vazio na volta, enquanto que o caminhão tradicional volta carregado.

RESPONSABILIDADE
Fizemos dois movimentos, no Paraná, que teve ampla repercussão social. O primeiro foi o breque na venda de carne que não contém o carimbo do SIF, contribuindo para reduzir a incidência de doenças. A segunda foi quando retiramos, das prateleiras, a soda cáustica. Era grande o número de crianças que ingeriam a bebida em casa pensando que era leite. Existia, em Curitiba, o clube da soda para atender essas crianças. Depois que suspendemos a venda do produto nos supermercados, o clube foi fechado, graças à diminuição drástica do número de vítimas.

Texto Anterior: Dólares desafiam risco nos pregões brasileiros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.