São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Dólares desafiam risco nos pregões brasileiros

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Carnaval das Bolsas de Valores começou há muito tempo. De 4 de janeiro de 1993, o primeiro pregão do ano passado, até agora, as ações apresentaram valorização real de 235%. Seu primo pobre, o fundo de ações, criado para atender aqueles que não têm como investir direto no mercado acionário, rendeu 88,5% reais. E como no Carnaval, não importa muito se o Brasil está melhor ou pior.
É que o conceito de risco, hoje, tem duas formas diferentes de interpretação. "Para os estrangeiros, quanto maior o risco, maior a possibilidade de ganho", explica Luiz Antônio Gonçalves, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda e presidente do Banco Cindam. "Há um ponto de interrogação na frente, mas os dólares continuam apostando em soluções."
O ingresso de capital estrangeiro nas Bolsas é fundamental para a valorização das ações. Até os mais experientes operadores do mercado têm de tomar um banho de loja. Entre os locais, o costume é vender sempre que alguma coisa negativa ocorre no governo. Para os estrangeiros, tudo é encarado como mais um passo no cotidiano do país. E quem vende, se arrepende com a alta subsequente. Volta a comprar e o ciclo de alta se alimenta.
"Quem estava fora ficou invejoso com os lucros dos que chegaram primeiro", conta Dionísio Leles, diretor do Banco Dibens. "Agora, querem garantir seu espaço. O único receio é com a política, mas tem um consenso de que o Brasil vai ter que se arrumar.
O exemplo do Morgan Grenfell, banco de investimento inglês, ilustra essa voracidade. O banco lançou um fundo fechado de ações da América Latina com o objetivo de captar US$ 100 milhões, semana passada. Somou um patrimônio de US$ 200 milhões e fechou o acesso a adesões em dez dias. Os investidores mais veteranos vendem cotas em fundos com ágio de 30%.
O que dá um nó na cabeça do pessoal de fora é saber que o juro real continua alto e também dá lucros como em nenhum lugar do mundo. Um CDB comprado em 4 de janeiro de 93 e renovado de trinta em trinta dias até 4 de fevereiro de 94 rendeu ganho real de 23,08% comparado com a Ufir.
"Com um pouco de dinheiro e inteligência, dá para nadar de braçada", afirma Marcelo Adorno, diretor da Corretora Tryccomm. "Este é um país maravilhoso porque tem muitas distorções provocadas pelas trapalhadas do governo. E daí nasce o lucro." O exemplo clássico: o governo tem déficit. Vai ao mercado financeiro e vende títulos a 25% de juros reais ao ano.
Basta alguém conseguir dinheiro emprestado no mercado americano, que cobra juro de 4% ao ano, e aplicar em um título de renda fixa no Brasil. O investidor casa o prazo da aplicação, não gasta um tostão e leva 21% de lucro. Segundo Paulo Mallmann, diretor financeiro do Banco BMC, mudou a percepção do país em relação ao menu de ativos. "Ganham destaque as Bolsas, pois representam a expectativa de crescimento econômico", diz.
Segundo Márcio Orlandi, dono da Fundamental Research Consultoria, as empresas também ganham com a sua atividade e reforçam o caixa com operações no mercado de capitais. "A vantagem é que quem tem uma empresa, ganha dinheiro e preserva seu patrimônio."

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