São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Síndico profissional 'liberta' moradores

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O velho problema dos condomínios de não encontrar um morador disposto a assumir a responsabilidade de ser síndico está sendo resolvido em alguns prédios de São Paulo com a contratação do síndico profissional. Cerca de 5% dos condomínios da cidade já contam com um profissional na "'função maldita", segundo dados da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo).
O síndico contratado, em geral, não é um morador do prédio. Ele tem noções de contabilidade, direito trabalhista e aplicações financeiras e já administrou outros condomínios. Alguns são aposentados e respondem pela gerência de três ou quatro prédios. Cobram de acordo com o número de apartamentos ou a arrecadação do condomínio e podem ser contratados mediante registro na carteira profissional ou por contratos de prestação de serviços.
No condomínio Cap Dage, no Campo Belo (zona sul), a decisão pela contratação de um síndico foi tomada em uma assembléia no ano passado. "Todos os moradores do prédio trabalham e viajam muito. Ninguém tem tempo e ninguém quer assumir essa função", diz Dorothy Aby-Azar, uma das moradoras do condomínio. Segundo ela, o fato de o síndico não morar no prédio não está, por enquanto, prejudicando o andamento da administração.
O síndico do Cap Dage é o aposentado José Ícaro Guidi, , que há seis anos trabalha no ramo. Além do condomínio do Campo Belo, ele cuida da administração de sete outros prédios em São Paulo. Para exercer a função, conta com a ajuda da mulher e da filha. A dedicação ao trabalho é integral, segundo ele. "Reservo oito horas do meu dia, mas na prática, passo o dia todo atrás disso", afirma. Guidi tem com os condomínios um contrato de prestação de serviços e cobra de 4% a 6% da arrecadação dos edifícios.
No condomínio Portal do Brooklin, no Jardim Marajoara (zona sul), a solução encontrada pelos moradores não foi a de contratar um síndico, mas de dar um retorno financeiro ao condômino que assume a função. Quando eleito, o morador assume também a função de gerente da associação dos moradores, com uma remuneração de 60% do salário mínimo para cada um dos 23 prédios administrados, o que, em fevereiro, corresponde a CR$ 556 mil.
O eleito, Demerval Torres, é contador, trabalha em uma empresa multinacional e dedica três horas diárias à administração dos 23 prédios do Portal do Brooklin. "Mas estou sempre à disposição dos condôminos. Às vezes, à noite, fico rodando pelos 40 mil metros quadrados ocupados pelo condomínio verificando luzes e elevadores", diz. A meta de Torres, que assumiu a função em dezembro último, é reduzir em 20% a 30% os gastos do condomínio, que tem cerca de 70 funcionários. "Por enquanto, não consegui porque se acumularam os reajustes de água e luz e a reposição quadrimestral dos salários dos funcionários."
Segundo a Aabic, as taxas de condomínio subiram acima da inflação em 1993. O Ipecon (Índice de Preços de Condomínios) apurado pela entidade junto a 420 edifícios de São Paulo apontou uma variação acumulada de janeiro a dezembro do ano passado de 3.123,86%, contra uma inflação medida pelo IGP-M de 2.567,33%, ou seja, um aumento real das taxas de condomínio de 21,68%

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sobre a 'função maldita' na pág. 10-2.

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