São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Turista vai à praia e vive na fila

SERGIO SÁ LEITÃO
ENVIADO ESPECIAL A CAMBURI

Tem a fila da balsa, a fila do telefone e a fila da jaca. No Carnaval, as praias de São Sebastião, Ubatuba e companhia têm filas para todos os gostos. Por quatro dias, elas viram parte inseparável da paisagem, ao lado da serra do Mar, do mar sem serra e suas ilhas. São 2 milhões de turistas e, segundo as prefeituras, não há estrutura para suportar a invasão carnavalesca.
Bom humor e paciência são requisitos indispensáveis para os banhistas de Momo. A viagem de 40 km entre Camburi e o centro de São Sebastião, por exemplo, propicia a fila da ponte –há apenas uma pista, gerando um rodízio entre as mãos– e o tradicional engarrafamento de Maresias. Os postos têm a fila do abastecimento e as padarias, a fila do sorvete e da água. Tem até a fila do jornal.
OrelhõesOs orelhões atraem filas das mais movimentadas. Ontem à tarde havia 30 pessoas em Camburi, 25 em Boiçucanga e quase 40 em São Sebastião. Seus adeptos levam cadeiras de praia, revistas e aproveitam para ampliar o círculo de amizades. As linhas telefônicas ficam congestionadas e uma ligação interurbana chega a demorar 20 minutos –ora ela morre no DDD, ora no prefixo. A cobrar, impossível.
Mas nenhuma se compara –em tamanho e agitação– à fila da balsa que leva de São Sebastião a Ilhabela, sob a responsabilidade do Dersa. Na manhã de sábado, ela se estendia por 4 km de ruas labirínticas, pelo menos cinco horas de espera. Num Escort, quatro paulistanos jogavam canastra; mais à frente, um sansei dedilhava bossa nova e seis sambistas esquentavam os tamborins (e os surdos, os repiniques...). A azaração lembrava a da rua Augusta –instinto selvagem puro.
ModelosHá filas exóticas e politicamente corretas. A coleta seletiva de lixo provoca aglomerações nas latas e depósitos. A Kaiser proporciona a fila da cerveja, que interrompe o tráfego e reúne menores e maiores, sem censura, todos sedentos por uma Weiss gratuita. As areias têm a fila do cachorro-quente e a fila da água de coco. Tudo sob um calor de 35 graus e um sol rebelde que ontem insistia em se esconder atrás das nuvens.
A fila das modelos embalou Camburi à tardinha. Três deusas da Elite –Claudia Molliet, 24, Andrea Clara, 21, e Juliana Flores, 16– provocaram um alinhamento informal de rapazes de olhos esbugalhados e salivas salientes. Elas estão passando o feriado da folia no litoral norte e já curtiram a via crucis das filas. "Enche o saco, mas vale a pena", diz Molliet. "Pelo menos a gente está na praia", decreta Clara.

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