São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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'Discount' é alvo do Pão de Açúcar

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de reformular sua rede de supermercados em São Paulo, o Grupo Pão de Açúcar prepara-se para enfrentar a concorrência com formatos de varejo ainda inéditos no país.
O grupo negocia uma loja em novo shopping center especializado em promoções, que está sendo construído na zona sul de São Paulo, e avalia a instalação no local de uma loja de descontos, conforme apurou a Folha.
Os dois tipos de negócios mais conhecidos na categoria "discount" (desconto) são: a "Super Drugstore" –que concentra suas vendas nas prateleiras de alimentos não perecíveis, bebidas e produtos de higiene pessoal– e o clube de compras.
Por enquanto, a cúpula do Pão de Açúcar limita-se a informar que o grupo está "sempre atento" às tendências do varejo internacional.
Conhecido como "Warehouse Club", o clube de compras prolifera há uma década nos EUA, com o apelo de oferecer descontos de 30% a 40% a consumidores dispostos a comprar em quantidades, mediante pagamento de taxa anual que oscila de US$ 25 a US$ 35.
Com instalações despojadas, a loja de clube de desconto opera com menos itens (3.500) que um hipermercado (40 mil) e vende de congelados a eletrodomésticos. A cadeia Wal-Mart, líder mundial do varejo, domina esse mercado nos EUA com sua cadeia Sam's Club.
A diversificação encaixa-se na estratégia de buscar alternativas para aumentar a competitividade. O Pão de Açúcar está concluindo a reestruturação de sua rede de supermercados em São Paulo. Esse processo teve início em julho do ano passado e, desde então, 23 das 63 lojas da cadeia Minibox –localizadas na periferia– foram transformadas em supermercados compactos e ganharam a bandeira do Pão de Açúcar.
Outras dez serão convertidas até o final de março. Das restantes, 12 foram fechadas e as demais franqueadas a terceiros. Também 15 hipermercados Jumbo sofreram reformas e foram rebatizados de Superloja. Com essas mudanças, a rede Pão de Açúcar em São Paulo ampliou de 95 para 142 o número de lojas em sete meses.
O diretor-executivo George Washington Mauro exibe cifras para mostrar que os objetivos de aumentar a eficiência e "melhorar a imagem" desgastada da marca foram atingidos. No segundo semestre do ano passado, o faturamento atingiu US$ 370 milhões, sendo 43% superior ao do mesmo período de 1992. Também o fluxo de clientes nas lojas aumentou 26%.
"Essa reestruturação mostrou que havia lojas bem localizadas, com excelente potencial de vendas, porém mal operacionalizadas", afirma o executivo. Além da imagem negativa de "careiras", muitas delas pecavam pela aparência e má qualidade de serviços.
Segundo o executivo, a estratégia conduzida na rede contribuirá para elevar a US$ 2 bilhões o faturamento do grupo este ano, quando serão investidos US$ 22 milhões em publicidade. Do total, US$ 2 milhões são destinados à veiculação de mensagens institucionais.
A rede Minibox, inspirada no modelo da cadeia alemã Aldi, foi criada em 1979, para atrair com ofertas de descontos o público alvo de baixa renda. Mas, posteriormente, passou a sofrer concorrência de lojas mais sofisticadas que também ofereciam descontos.
Com área média de 400 m2, os supermercados compactos exibem em suas prateleiras 1.400 itens, enquanto os Minibox trabalhavam com somente 500. "Ampliamos o sortimento de perecíveis, laticínios e embutidos e introduzimos uma seção de frutas, verduras, açougue e padaria", diz.
O investimento necessário para a transformação alcançou cerca de US$ 7 milhões. O projeto visual ficou a cargo do consultor Lincoln Seragini e a multiplicação das vendas em alguns pontos chega a impressionar, prossegue Mauro, ao citar o caso da loja de Cidade Ademar, na zona sul, que ampliou seu faturamento em 264% no mês passado.
Em janeiro, a rede Pão de Açúcar (que possui 181 lojas em todo o país) respondeu por 53,9% do faturamento do grupo, dono também das marcas Extra (6 lojas), Superbox (10 lojas), Eletro (31 lojas) e Peg e Faça (3).
Outra novidade do grupo é a inauguração, no próximo mês, da primeira franquia da loja Peg e Faça, na zona sul. As três lojas da marca hoje existentes registraram faturamento de US$ 4 milhões em 1993. "Planejamos um programa para estabelecer 80 lojas franqueadas e 20 próprias nos próximos cinco anos", afirma o gerente-geral Hamilton Marcondes.
Cada loja comercializa 2.500 itens. O investimento necessário para adquirir uma franquia é de US$ 250 mil, dos quais US$ 150 mil se referem à compra de estoques iniciais.
"A insegurança e os elevados custos de serviços no lar estão impulsionando o mercado do faça você mesmo", afirma o executivo. Uma pesquisa revelou que 85% dos frequentadores das lojas são das classes A e B e 25% são donas-de-casa.

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