São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Do Divino Ademir ao Pelé de Bogotá

MARCELO FROMER; NANDO REIS
DO DIVINO ADEMIR AO PELÉ DE BOGOTÁ

Palmeiras de hoje é uma seleção
MARCELO FROMER e NANDO REIS
Quem não se lembra da velha Academia? Do tempo em que a General Eletric ainda fabricava TVs em que assistíamos a emocionantes Fla x Flus em branco e preto. Pelo tricolor o canhotinha de ouro Gérson, e, pelo rubro-negro o ensandecido Doval, davam colorido especial ao clássico carioca.
Em campo, Dudu, volante capaz de guiar um time com uma venda nos olhos. Na zaga, Luiz Chevrolet, que além de guarnecer sua defesa, ainda encontrava forças para arrancadas espetaculares. Era um timaço comandado por um craque fino e elegante: o Divino Ademir da Guia.
No gol, Emerson Leão, um guarda-metas elástico, seguro e arrogante. Eurico, Zeca e Alfredo Mostarda protegiam sua defesa contra estocadas de um Terto, Paulo Borges, Mirandinha e tantos outros.
Mas como todo time tem um ciclo, a Velha Academia se foi, deixando um enorme vazio. Um buraco que durante muito tempo se encheu das lágrimas de palmeirenses aflitos e inconformados com tantas derrotas e títulos perdidos. Segundo reza a lenda, havia um sapo enterrado nos Jardins Suspensos, que à cada derrota do Palmeiras coaxava triste entoando a seguinte melodia: "Saudades da Academia, Saudades da Academia".
Hoje, substituindo a Academia, temos a verdadeira seleção verde. O goleiro Sérgio, que apesar do inconformismo de sua diretoria, que quer ter um goleiro de "seleção", não compromete. Pelo contrário, está no nível dos goleiros brasileiros. A sua zaga atual, com Antônio Carlos e Cléber firmes e seguros no desarme e no apoio, que poderiam muito bem servir à seleção. E esse fenômeno da lateral-esquerda que é o Roberto Carlos, com seu chute potentíssimo e o seu senso de apoio e cobertura, é o mais indicado para disputar a posição do selecionado com Leonardo. Mas os olhos de Parreira só enxergam o futebol de Branco.
O meio-campo do Palmeiras é um caso à parte. Nesse ponto também devemos traçar um paralelo com a seleção. Será que César Sampaio não demonstra reunir em uma única camisa o que o Teimoso pensa em distribuir em duas? Eficiência na marcação, senso de cobertura, arrancadas ao ataque, mas sobretudo o passe. A moeda corrente do bom futebol é o passe, e o César Sampaio entrega a bola como ninguém.
Seguindo, nós vamos esbarrar com a estupenda noção de conjunto demonstrada por Mazinho em suas novas funções. Antes lateral e agora fazendo o meio-campo funcionar com economia e sobriedade. Até chegar ao maestro Rincón, o Pelé de Bogotá. É impressionante a capacidade deste gigante negro em proteger a bola de costas e entregá-la no endereço certo. Ele alia elegância e malícia. Ele é um desses jogadores que fazem a camisa 10 parecer maiúscula.
E o ataque, que não anda economizando as redes adversárias, é infernal: Zinho, Evair e Edmundo. Cabe destacar que Evair voltou a jogar bem, mostrando que não é apenas o centroavante batedor que joga de costas para o gol. O Palmeiras de hoje não é um time, é uma seleção, montada pela Parmalat com muita consciência e muito dinheiro. Uma seleção mais forte que o atual time que veste a camisa canarinho. E é por essas e por outras que com o Teimoso faltam 123 dias para começarmos a perder mais uma Copa.

Marcelo Fromer e Nando Reis são do Titãs

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