São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Uso de camisinha cresce entre estudantes

MARIA LUÍSA CAVALCANTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos adolescentes de escolas estaduais de São Paulo que têm vida sexual ativa está usando camisinha na hora da transa. Segundo pesquisa da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), realizada em dezembro passado com alunos maiores de 14 anos de todas as regionais de ensino da Grande São Paulo, 57% dos entrevistados que transam confirmaram que usam preservativo. Em 1992, a mesma FDE havia constatado apenas 43% de respostas afirmativas.
Essa mudança de comportamento tem algumas razões, segundo Ione Mendes, 31, gerente de pesquisa aplicada da FDE. "Os meios de comunicação estão jogando mais pesado com o assunto Aids. A escola também está falando mais e o jovem hoje está mais consciente do perigo", explica.
Um exemplo disso é o estudante Sérgio Gambier Campos, 19, que conta que resolveu adotar a camisinha de vez há pouco mais de um ano. "Quando eu era mais novo eu não usava. Mas uma vez eu transei com uma menina que eu não conhecia e fiquei meio encanado. Passei a levar camisinha comigo sempre", diz.
Outro ponto de destaque na pesquisa da FDE é a relação dos motivos que os teens apresentam para simplesmente não usar a camisinha. Apostar no parceiro é a desculpa mais comum. De 92 para 93, cresceu de 24% para 42% o número de adolescentes que confiam no namorado (ou namorada) e que por isso preferem não adotar o preservativo.
"Depois que você já conhece a menina, é bom os dois fazerem o teste para saber se têm o vírus da Aids. Se não tiver nenhum problema, a menina pode ficar só tomando pílula", diz o estudante Roger Gobeth, 20, que agiu dessa forma com a sua namorada.
Aumentou de 11% em 92 para 26% em 93 o número de adolescentes que não gostam de usar a camisinha ou que acham que ela atrapalha a transa. Os que esquecem o preservativo também são em maior número: 22% agora, contra 8% em 92. "Esse número é grande porque as situações de imprevistos acontecem muito com os jovens", explica Ione Mendes, da FDE.
Para evitar esse problema é que a estudante Manuela Dias Coelho, 18, anda sempre prevenida. "Sempre saio com camisinha na bolsa e faço questão de comprar as das melhores marcas porque não dá para ficar esperando o namorado comprar. E eu não abro mão da camisinha de jeito nenhum", conta.
Praticamente metade (49%) dos adolescentes entrevistados que transam afirmou ter mudado seus hábitos sexuais por causa da Aids. O número é pouco diferente do obtido em 92 (47%). (Maria Luísa Cavalcanti)

LEIA MAIS
Sobre sexualidade e Aids à pág. 6-3.

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