São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994 |
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A imprensa chega para animar a festa
MARCELO PAIVA
Entre as barracas, uma cratera rodeada por sangue. As imagens correram o mundo, ocupam os tele-jornais, despertam os especialistas, e cá estamos nós, novamente, no compasso de espera de mais uma guerra envolvendo muitos países. O mundo viu muita televisão na infância. Quem não se impressionou com aquela cena, aquela lá, em que índios ferozes cercam a carroça da boa família de forasteiros, e, com sua primitividade, ateiam fogo, atiram machadinhas, e gritam como alucinados? O líder indígena enxuga os beiços; vê, na família, o almoço do dia. Tudo está perdido. Nem tudo. Uma corneta soa no deserto. Tá-tá-tá-taaá. São eles, da cavalaria americana! De uniforme azul, galopando em fila, aparecem do nada, botam os primitivos pra correr, e salvam a família. Para deleite geral, o capitão é um gato, e lasca um beijo na filha loira-camponesa. Tudo se fecha, como se a vida fosse um roteiro cinematográfico. A imprensa, é claro, quer ver o circo pegar fogo. Com guerras ao vivo, via satélite, ganha audiência e anúncios. A "Tempestade do Deserto", operação para libertar o Kwait, rendeu bons frutos à CNN, que se firmou como a mídia da nova ordem mundial. Seus correspondentes ganharam fama e prêmios. A campanha para uma intervenção armada na ex-Iugoslávia já começou. Apela para que a cavalaria americana saia dos filmes, e acuda o bravo povo Bósnio. Clinton está em cima do muro; ou melhor, debaixo da cama, escondendo-se dos escândalos que cercam sua vida pública. Os ingleses, como sempre, fingem que não têm nada a ver com o "duck". Os que ajudaram na grita foram os franceses. Com complexo de Napoleão, defendem um ataque aéreo imediato às tropas sérvias. No futuro, os filmes da sessão da tarde terão outros heróis. Tá-tá-taaá. Olhe, são eles, os homens da imprensa! E o beijo será entre o correspondente da CNN e a loira belzebu. Texto Anterior: Aids sofre menos preconceito Próximo Texto: Rodrigo Demunno Índice |
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