São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Como as chinesas derrotam o infortúnio

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: O Clube da Felicidade e da Sorte
Produção: EUA, 1993
Direção: Wayne Wang
Onde: a partir de hoje Olido 2, Gazetinha e Cal 1

Se existe ironia neste filme, ela está toda no título. "O Clube da Felicidade e da Sorte" trata de quatro mulheres chinesas que vivem em San Francisco, Califórnia. No início (uma festa), todas parecem felizes e realizadas.
Algo, porém, as leva ao passado, ao tempo em que moravam na China. Uma delas é forçada a aceitar um casamento arranjado. Outra, tem de abandonar suas filhas gêmeas ao relento, quando foge da invasão japonesa ao seu país. A terceira revive a tragédia da mãe oprimida. A quarta nasce rica, mas casa com um tipo imprestável.
Para completar, existem os problemas atuais dessas mulheres, envolvendo seu relacionamento com as filhas, que cresceram em outro mundo e outro tempo (e, no mais, têm seus próprios problemas).
Resumindo, Wayne Wang, diretor nascido em Hong Kong, faz um filme essencialmente feminino, que não deixa de evocar os velhos melodramas japoneses: atém-se longamente a cada uma de suas personagens, que olha com delicadeza, compreensão e sem nenhuma pressa.
É um filme simpático, por vezes tocante, valorizado pela boa reconstituição de época e dos ambientes. O que pode contar contra é o trabalho em tempos lentos, que contraria o standard do cinema americano.
Não é essa, em todo caso, a única contrariedade que cultiva. "O Clube da Felicidade e da Sorte" leva a marca de seu produtor executivo, Oliver Stone: uma crença quase irracional na humanidade, em sua capacidade de superar a adversidade e impor-se às injustiças. Em um tempo de cinismo triunfante como o atual, não está na moda. Mas isso não chega a ser um problema. (Inácio Araujo)

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