São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Neoliberalismo perde três eleições na AL

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Em eleições na Venezuela, Honduras e Costa Rica, ganharam candidatos de partidos de oposição com a bandeira do antineoliberalismo.
Em seus discursos de campanha, o novo presidente venezuelano, Rafael Caldera, que derrotou os dois grandes partidos tradicionais à frente de ampla coligação, procurou dar "feição humana" às propostas econômicas, o que foi considerado pelos tecnocratas um "assalto verbal" às reformas de livre mercado introduzidas pelo governo anterior.
Carlos Roberto Reina venceu em Honduras promovendo a noção de "terapia humanamente aceitável". Ele não tem condições de livrar-se de imediato de certas heranças, como militarismos e submissões que nos anos 80 transformaram Honduras num porta-aviões americano, mas garante que fará "ajustes" com "grande autonomia" em relação às fontes internacionais de financiamento, sobretudo o FMI e o Banco Mundial.
Na Costa Rica, depois de dez anos de "ajuste estrutural", o eleito José María Figueres, de um partido social-democrata, promete "restabelecer a esperança dos mais humildes".
A grande discussão na Costa Rica, em meio à enxurrada de promessas que abalou a credibilidade dos dois favoritos, tratou do papel do Estado num país que tem os melhores indicadores sociais da América Central, o único com algo parecido com "welfare state" (estado do bem-estar social).
Enquanto a Unidade Social-Cristã, no governo costarriquenho, se punha contra "a volta ao Estado paternalista, empresarial e interventor", o partido de Libertação Nacional de Figueres anunciava o advento, com ele, de um Estado "ágil", não um "estorvo" e sim "instrumento de desenvolvimento".
Mesmo os social-cristãos, cientes da impopularidade do "ajuste", prometeram "medidas sociais compensatórias para os mais humildes", como subsídios para educação, alimentação e construção de casas próprias.
A Venezuela, com Caldera, dará, no mínimo, forte travada em "versões extremadas" de economias abertas, chamadas na América Latina de neoliberalismo, cujo pontapé inicial, na direção do domínio global dessas idéias, foi a reunião do Banco Mundial conhecida como "consenso de Washington".
Com o fim da Guerra Fria, qualquer intervencionismo na economia ficou sob suspeita.

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