São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 1994
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Igreja quer fim de 'democracia das elites'

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Igreja quer fim de 'democracia das elites'
A Igreja Católica vai apresentar aos candidatos a presidente um projeto para o país no qual propõe o fim do que chama "democracia das elites". A idéia, defendida num documento obtido pela Folha, incentiva uma "revanche" política nas eleições deste ano: "usar o voto para julgar os congressistas e políticos que traem seu mandato popular".
O texto "Brasil: Alternativas e Protagonistas" é a maneira pela qual a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) quer influir na eleição presidencial, além de propor um projeto político-econômico de longo prazo para o país.
O texto, elaborado por uma comissão da Pastoral Social da CNBB, diz que o Brasil é uma "sociedade em que se pratica apenas a democracia das elites", na qual "evita-se e teme-se a consulta aos cidadãos". A Igreja apela por mudanças que devem ocorrer a partir da sociedade "estupefata" com os fatos que levaram ao impeachment de Collor e à proposta de cassar congressistas corruptos.
O documento é resultado da sistematização de documentos de catorze regionais da entidade, que promoveram encontros com entidades da sociedade civil. A proposta da CNBB será discutida na 2.º Semana Social Brasileira (de 24 a 29 de julho em Brasília) e levada aos candidatos a presidente numa noite de debate. O padre Inácio Neitzling, coordenador da comissão, afirma que se trata de um "documento polêmico a ser discutido e que vai gerar um grande debate dentro e fora da Igreja". Na reunião, deve ocorrer um choque entre as correntes progressista e conservadora da Igreja.
O bispo de Jales (SP), d. Luiz Demétrio Valentini, responsável pela Pastoral Social da CNBB, diz que "é mais que legítimo que a CNBB interfira nas eleições e apresente alternativas não só conjunturais, mas também de longo prazo". Segundo Valentini, o documento não defende candidaturas. Ele, porém, identifica semelhanças entre as propostas da CNBB e idéias defendidas pelo PT, PSDB e partes do PMDB e PDT.
O documento, que será divulgado nacionalmente no dia 24 de março, detalha propostas para modelo econômico, reforma agrária, educação, meios de comunicação social, Mercosul, papel das Forças Armadas e polícias militar e civil. Ainda estão sendo finalizadas as propostas nas áreas de meio ambiente, Poder Judiciário, reforma urbana, saúde, além de sugestões específicas para cada região do país. O projeto será debatido na reunião de julho e pode ser alterado.

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