São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 1994
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O presidente pierrô

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Já não faltavam motivos para se acreditar que Itamar Franco poderia estar preparado para qualquer coisa em sua vida –menos para ser presidente da República. Mas este Carnaval exibiu como um homem público consegue perder a compostura, protagonizando num camarim do Sambódromo cenas que passariam despercebidas para um indivíduo comum. Não um chefe de Estado.
Não vai aqui nenhum moralismo, mas tudo tem limite –especialmente para um presidente da República, obrigado a exibir sempre equilíbrio. Talvez afetado pela bebida, Itamar Franco exibiu um comportamento inadequado com uma deslumbrada manequim, para o desespero do cerimonial. E, como se não bastasse, ofereceu-lhe um carro oficial.
A cena só demonstra que como tem sido longa no Brasil a fase de presidentes despreparados, o que ajuda a explicar o tamanho de nossa crise social e econômica –viramos campo de pouso para pára-quedistas.
Saímos de João Baptista Figueiredo que, na Presidência, perdeu a noção de ridículo, desequilibrando-se mentalmente. Basta lembrar que, numa entrevista, ele pediu: "Esqueçam de mim". José Sarney tinha a expectativa de ser apenas vice-presidente. Chegou no terceiro andar do Palácio do Planalto e, hoje, em conversas reservadas, admite que errou muito –gostaria de voltar, acrescenta, porque acha que agora está mais preparado.
Veio Fernando Collor que caiu, no fundo, por seu deslumbramento pelo poder. Deixou como herança Itamar Franco, um dos piores presidentes do Brasil de que se tem notícia –só não está pior porque, pressionado por todos os lados e sem alternativas depois da queda de Eliseu Resende, indicou Fernando Henrique Cardoso.
Fosse uma praga, dessas de bruxa de desenho de Walt Disney, não seria tão perfeita.
PS – Na busca de informações para compor dossiês que supostamente comprometam seus adversários, Orestes Quércia elegeu como um de seus alvos preferidos o empresário Sérgio Motta, sócio de Fernando Henrique Cardoso num empreendimento agrícola, tido como um dos caixas de campanha.

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