São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 1994
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Times grandes têm rodada arriscada

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Na rodada de hoje, há uma pedra na chuteira do Palmeiras: esse América do Vail Motta é um time que pode surpreender o super-Palestra. Isso, claro, caso os palmeirenses resolvam brincar em serviço, o que não tem sido um traço da personalidade desse time. Ao contrário, se há um campeão zeloso dessa condição, esse é o Palmeiras. Joga com a autoridade de quem se sabe superior, mas nunca abusa. Pode-se até condenar essa equipe pelo excesso de discrição. Com os jogadores que possui e o entrosamento de dois anos de convívio, o campeão poderia mesmo arriscar um pouco mais no espetáculo.
Quem não pode arriscar é o tricolor, que pega esta tarde a Ferroviária em casa. Sem a presença aglutinadora de Telê e sentindo a ausência de Muller, Cafu e Palhinha, e ainda carente do preparo físico sobrenatural que lhe deu tantos títulos nas últimas temporadas, o São Paulo tem se mantido na liderança por força de seu estigma de campeão, apenas. E tudo indica que hoje não será diferente.
Quanto ao Corinthians, virou uma incógnita. Tudo pode acontecer com esse time que está se armando em meio ao campeonato, com um técnico vencedor, competente, mas nada brilhante. Além do mais, espera ansioso pela estréia de Casagrande, um desses heróis do Parque, que, sabe-se lá por que ofícios, caiu no coração da Fiel como uma rosa de ouro. Se tivesse de escalar um ataque ditado pelo paixão da torcida, na gloriosa história corintiana, Casão certamente estaria ao lado de Cláudio, Luisinho e Baltazar.
Hoje, enfrenta, lá, o Mogi, que vem de derrota, portanto ferido. É parada dura.
E assim vai este campeonato de pontos corridos, com uma traição armada atrás de cada esquina. Não só porque o Trio de Ferro está forte, mas, sobretudo, porque os chamados pequenos prepararam-se bem. E contam com uma vantagem sobre os grandes: a superexposição que a TV promove dos favoritos e a sombra do desconhecimento que protege os menos cotados. Qualquer treinador do interior sabe, com detalhes, cada gesto dos grandes. A recíproca, porém, não é verdadeira.
*
O Matinas botou seu bloco na rua uma semana antes do Carnaval. Vai de Edmundo, Bebeto, Romário, Dener e Muller. O ex-jogador Serginho Chulapa deu seu aval. Sobre se seu time jogaria no ataque ou na defesa, o irreverente tamborim do Camisa repinicou:"Se Edmundo, Bebeto, Romário, Dener e Muller estão no meu time, jogo no ataque. Se estão do outro lado, jogo na defesa".
Nesse ataque, sem dúvida, sobra talento, mas falta um parafuso na cabeça de cada um. Mas, com exceção de Pelé e Zico, qual o craque excepcional que não padeceu desse mal? Esse, na verdade, não seria o grande problema. Aliás, nem problema haveria, pelo menos para nosso time, caso Parreira tivesse fé nessa fórmula. E autoridade para convencer uns três deles de que deveriam participar do combate de meio-campo, quando o adversário estivesse de posse da bola.
Em 82, Telê conseguiu tal feito com Sócrates, Eder e Zico, três atacantes típicos que se somavam ao meio-campo com Falcão e Cerezo e lá na frente com o Chulapa, de acordo com as exigências do jogo. Perdemos, mas não por isso.
Aliás, o próprio Parreira ganhou o apoio da crítica especializada e da opinião pública no início de seu trabalho, quando escalou cinco avantes: Muller ou Renato Gaúcho, Luís Henrique, Careca ou Romário, Raí e Elivélton, lembram-se? Só que Luís Hnerique, Raí e Elivélton tinham pernas e disposição para ajudar aqui no meio-campo. Depois, na Copa América, tudo começou a degringolar.
Em suma, que dá, dá. É só uma questão de entrosamento entre técnico e jogadores. Sob as bênçãos do Senhor.

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