São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 1994
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'O Amuleto de Ogum' traz Brasil arcaico

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: O Amuleto de Ogum
Produção: Brasil, 1975
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Elenco: Ney Sant'anna, Anecy Rocha, Jofre Soares, Macalé
Onde: hoje, às 21h, no Espaço Banco Nacional de Cinema

Como o próprio Nelson Pereira dos Santos disse certa vez, "O Amuleto de Ogum" é uma espécie de continuação de "Vidas Secas", como se os personagens daquele livro e filme clássicos tivessem migrado para a Baixada Fluminense.
Nessa mudança do Brasil rural e arcaico para o urbano e "moderno", o que chama a atenção é, antes de tudo, o recrudescimento da brutalidade –não só no sentido da violência física, mas também da estética. Em "O Amuleto de Ogum", como em poucos outros filmes, apresenta-se um país pobre, místico, violento e extravagante.
A felicidade do diretor foi a de se aproximar desse universo complexo contando uma história simples, que segue uma estrutura clássica de filme de gângster. Gabriel (Ney Sant'anna, filho do diretor) chega ao Rio, vindo do Nordeste e se emprega como capanga de um chefão do crime organizado, Severiano (Jofre Soares), mas acaba se envolvendo com a mulher deste, Eneida (Anecy Rocha, irmã de Glauber), com quem muda de bando.
O que introduz um componente inequivocamente brasileiro e popular nessa história é o fato de Gabriel ter o "corpo fechado" graças à proteção de Ogum.
Em seu aspecto documental, de retrato da miséria na periferia de uma grande cidade, o filme é um dos mais atuais do diretor. Há uma sequência em particular –cortada pela censura na época do lançamento– que parece saída dos jornais de hoje: os meninos do bando de Gabriel são torturados e mortos, um a um, pelos métodos mais cruéis possíveis.
O segredo da força de "O Amuleto de Ogum" reside talvez nisso: na forma crua e despojada com que Nelson Pereira flagrou um certo universo popular, naquilo que tem de sórdido, mas também no que tem de sublime.

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