São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Setor elétrico avança nas Bolsas

MARIO ROCHA; RODNEY VERGILI
DA REPORTAGEM LOCAL

As ações da Telebrás PN deixaram de dominar de maneira absoluta o pregão da Bolsa de Valores de São Paulo. Os investidores descobriram os papéis do setor elétrico que, aos poucos, vêm ganhando espaço nos negócios. O efeito já pode ser constatado na composição do índice Bovespa, que reúne os 54 papéis mais negociados na Bolsa paulista.
As ações da Telebrás PN participavam com 50,471% da carteira teórica do índice Bovespa de setembro a dezembro de 1993. A participação da Telebrás PN caiu para 43,948% na nova carteira para o período de janeiro a abril de 1994.
Já os papéis da Eletrobrás PNB ampliaram a participação de 8,241% para 9,449% e, os da Cemig PN, de 4,597% para 6,227% no mesmo período. O Ibovespa é composto a cada quatro meses de acordo com o volume de ações negociadas. O desempenho de papéis de algumas empresas elétricas justificam o salto. Enquanto as ações se valorizaram 113% reais em 93, as da Cemig alcançaram 641% e as da Light, 549%.
Para o diretor de mercado de capitais do banco Bandeirantes, Luiz Fernando Vasconcelos, quando os investidores estrangeiros começaram a olhar as Bolsas brasileiras atenção, buscaram primeiro as ações de um setor com melhor potencial de crescimento. "A escolha foi telecomunicações. As ações da Telebrás se valorizaram bastante e os investidores começaram a diversificar a composição de suas carteiras", explica.
Um dos indicadores mais utilizados pelos investidores estrangeiros para avaliar ações é a relação de seu valor com o valor patrimonial –ainda baixa, no caso do setor elétrico. Já as da Telebrás PN efetivaram no último dia 2 ganhos reais superiores ao valor patrimonial.
Mas os investidores estrangeiros, que estão comprando as ações do setor elétrico, tem outros motivos para prever bons negócios. Segundo, por exemplo, a Morgan Stanley, empresa que aconselha investidores nos quatro cantos do mundo, os acertos das empresas elétricas com o governo, geradas pelos CRCs (créditos a receber) vem abatendo depressa suas dívidas.
Depois, as tarifas do setor foram recompostas e jogadas bem para cima –saíram de US$ 34 por MWh em abril para cerca de US$ 65 no final do ano. A privatização das estatais do setor já tem um cronograma –se inicia pela Escelsa e Light– e seu prosseguimento, ainda que problemático e demorado, não tem obstáculos constitucionais, como é o caso das telecomunicações e petróleo.
José Carlos Batelli Corrêa, que assessora o banco Brascan, lembra que o setor de telecomunicações virou vedete mundial de dois anos para cá com os processos de privatização em países como Chile, Argentina e Espanha. "No Brasil, Telebrás tem sido o carro-chefe da Bolsa nos últimos três anos, desde que se começou a falar em privatização", afirma. Ele acredita que os papéis da Telebrás ainda vão manter por muito tempo o primeiro lugar do ranking. "É um papel que está na carteira de todos os investidores, principalmente aqueles com visão de longo prazo", diz.
Para Silvio Bresser Pereira, diretor do banco Fator, "existe uma desconfiança no mercado de que a privatização da Telebrás poderá ser feita pela subsidiárias, e não pela holding", afirma.
"Existe aí um potencial conflito, que já está levando algumas fundações a diminuir seus negócios com Telebrás e aumentar com ações das subsidiárias", diz. Outro motivo, segundo Bresser Pereira, é a maior procura pelas ações de segunda linha, isto é, de empresas privadas com bom potencial de lucro. "As empresas estão saindo do prejuízo e devem apresentar bons balanços em 94.", afirma.

Texto Anterior: BC discorda de parecer sobre dívida trabalhista
Próximo Texto: Capital privado; Dança das cadeiras; Guia pessoal; Sem papéis; Fim de caso; Novos conselheiros; No Rio; Para valer; Agitando a casa; Velha guarda; Sangue novo; Troca de afagos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.