São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atores valorizam filme de Jim Sheridan

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

Nisso Hollywood tem razão: sem bons atores alguns filmes não são nada. Com "Meu Pé Esquerdo", o irlandês Jim Sheridan levou o seu modesto filme a cinco indicações para o Oscar de 89 e consagrou o seu ator Daniel Day-Lewis. "In the Name of the Father", visto ontem na competição do 44.º Festival de Berlim, tem agora sete indicações para o Oscar e não tem nada de modesto.
Jim Sheridan e Daniel Day-Lewis voltam a se encontrar como quem quer homenagear o talento do outro. O filme vem inspirado na autobiografia de Gerry Conlon, injustamente condenado e preso por 15 anos como terrorista do IRA e como autor de dois atentados em pubs em subúrbios de Londres no começo dos anos 70. A guerra interna no reino britânico, torturas físicas e psicológicas e a conduta fascista dos inquisidores da Scotland Yard, imprensa manipulada e paranóia generalizada, mostram no filme que o terror não foi um desprivilégio apenas brasileiro ou de países do Terceiro Mundo nos anos 70.
O filme glamouriza bem a sua ação. A Irlanda separatista adapta-se à linguagem de Hollywood para tornar a narrativa mais atraente. A imprensa sensacionalista britânica faz no momento campanha para desacreditar o filme. Personagens pai e filho dormem na mesma cela quando de fato habitavam celas vizinhas. Sheridan assume o "mea culpa", mas não é grave. A cultura irlandesa fala, ou canta, mais alto. Bono, do U2, dá uma das suas melhores contribuições musicais a trilhas de filmes. E faz Sinead O'Connor cantar "Thief of your Heart", uma de suas melhores canções.
O folclore dos anos 70 apresenta todas as suas alegorias: hippies, senso coletivo, pop art, Bob Dylan ("Like a Rolling Stone"), Jimi Hendrix, Bob Marley, Che Guevara e Nelson Mandela batem ponto e parecem todos solidários ao injusto sofrimento de várias famílias irlandesas encarceradas só para a polícia mostrar serviço à rainha. Giuseppe Conlon, o pai do autobiografado, morreu na prisão antes da sua sentença de 30 anos ser relaxada. Em nome do pai, nos anos 80, ativistas ingleses mobilizaram-se para anular as injustiças cometidas em nome da rainha.
E mais uma vez um pequeno papel para Emma Thompson, como uma advogada, é suficiente para encher os olhos de emoção. Hollywood tem razão por indicá-la ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por um papel tão modesto. É duro admitir, mas sem ela, Daniel Day-Lewis e Pete Postlethwaite (como Giuseppe Conlon), o filme não seria suficiente para consagrar de novo a Irlanda de Jim Sheridan.

Texto Anterior: Último filme irá a Cannes
Próximo Texto: 'Philadelphia' causa impacto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.